Ultrarromantismo - a poesia ultra-romântica da 2ª geração
O arrebatamento pessimista e o desejo de morte
Amor e morte, medo e solidão, culto a uma natureza sombria, idealização absoluta da realidade: os poetas da segunda geração romântica levaram a extremos a expressão de sentimentos contraditórios, vividos pela maioria deles de modo atormentado. A literatura que produziram exprime esse modo de sentir e, algumas vezes, manifesta um olhar juvenil para os temas da época. São os chamados “poetas do mal-do-século”.
Formado basicamente por estudantes de Direito, essa geração era formada por jovens que levavam uma vida boêmia, sem juízo moral, porém de alta intelectualidade, já que a leitura desses textos fornecia aos poetas um público de perfil intelectualmente respeitável, diferente daquele para o qual recitavam nos salões burgueses. Eram todos leitores de versos arrebatados de Byron, Shelley e Alfred de Musset. Reconheciam, portanto, o interesse que os temas associados ao amor e à morte tinham para seus companheiros.
A ideia de morrer tem sentido positivo, pois garante o fim da dor e do sofrimento, bem como a agonia de viver. É no contexto das desilusões e da maneira pessimista de encarar a própria existência que a morte surge como solução.
Morte
(hora do delírio)
Pensamento gentil1 de paz eterna
Amiga morte, vem.
Tu és o termo
De dous fantasmas que a existência formam,
— Dessa alma vã e desse corpo enfermo.
Pensamento gentil de paz eterna,
Amiga morte, vem.
Tu és o nada,
Tu és a ausência das moções da vida,
do prazer que nos custa a dor passada.
Pensamento gentil de paz eterna
Amiga morte, vem.
Tu és apena
A visão mais real das que nos cercam,
Que nos extingues as visões terrenas.
(...)
Amei-te sempre:
— pertencer-te quero Para sempre também, amiga morte.
Quero o chão, quero a terra,
- esse elemento
Que não se sente dos vaivéns da sorte.
Para tua hecatombe2 de um segundo
Não falta alguém?
— Preencha-a comigo:
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.
Miríadas de vermes lá me esperam
Para nascer de meu fermento ainda,
Para nutrir-se de meu suco impuro,
Talvez me espera uma plantinha linda.
Vermes que sobre podridões refervem,
Plantinha que a raiz meus ossos fera,
Em vós minha alma e sentimento e corpo
Irão em partes agregar-se à terra.
(...)
Não posso da vida à campa
Transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.
Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo:
Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.
Junqueira Freire
A releitura do amor ultrarromântico no rock gótico “Evanescence”
O estilo dark, da vocalista Ammy Lee e as musicas depressivas e trágicas do grupo de rock Evanescence recriam a estética ultrarromântica. A maior parte das letras do grupo explora o desespero, falando de amor, dor e sofrimento, como é o caso da musica “Bring me to life”. Perceba através da leitura em que grau de sentimento se encontra o eu-lírico, o seu estado de espírito através da linguagem empregada.
Bring Me To Life
(tradução:Traga-me para a vida)
[...]
Sem uma alma
Meu espirito dorme em algum lugar frio
até que você o encontre
e o leve de volta pra casa
acorde-me)
Acorde-me por dentro
Eu não consigo acordar)
Acorde-me por dentro
salve-me)
Me chame e me salve-me da escuridão
acorde-me)
ofertar meu sangue pra fugir
eu não consigo acordar)
antes que eu me desfaça
salve-me)
salve-me do nada que eu me tornei
Agora que eu sei o que eu não tenho
Você não pode simplesmente me deixar
Respire através de mim me faça real
Traga-me para a vida
acorde-me)
Acorde-me por dentro
(Eu não consigo acordar)
[...]
Características gerais da poesia ultrarromântica
- O exagero sentimental e o gosto pela solidão.
- Influência do poeta inglês Lord Byron.
- Frustração e pessimismo diante dos valores burgueses.
- Apego a valores decadentes, como a bebida, o fumo e os prostíbulos.
- Visão idealizada do amor e da mulher.
- Evasão no tempo e no espaço.
- Busca da morte como solução e gosto por ambientes sombrios.
- Autodestruição e escapismo.
- Inadaptação à sociedade.
Culto a uma natureza mórbida. - Visão nefelibata do amor: a mulher vista como forma inatingível.
- Nostalgia da infância e lirismo ingênuo.
- Individualismo exagerado.