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Educação pela pedra, A

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Publicado em 1965, A Educação Pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto, reúne os traços determinantes da poesia de João Cabral de Melo Neto. Além da excelência de sua poesia pela consciência construtiva da linguagem, João Cabral consegue ser uma singular forma de realização do que se pode compreender por linguagem poética.

Apesar de ter produzido livros fundamentais até o final do século XX, A Educação pela Pedra vale como espécie de módulo quadrangular da obra como um todo.

A Educação pela pedra significa um importante momento na trajetória inventiva de João Cabral de Melo Neto. Pode-se dizer que essa obra representa o efeito de um trabalho progressivo que teve o seu início em 1942, com a publicação de Pedra do Sono, e que continuou, passando por estágios de tensão interna, verdadeiros pontos nevrálgicos para a escala da sua invenção.

A coletânea reúne 48 poemas marcados pelo didatismo do poema "A Educação pela Pedra", seu núcleo temático. A obra é dividida em 4 partes: a, A, b e B. Nas partes minúsculas os poemas são curtos e nas partes maiúsculas os poemas são longos. Os temas dos poemas também são distribuídos conforme as letras. Esta maneira de organizar os poemas pode exemplificar a preocupação do poeta com um livro cuidadosamente projetado. São poesias em que sobressaem o rigor formal e a contenção, sem prejuízo do lirismo.

No poema-título, ele nos remete ao conceito da "carnatura" da poética, sua matériaprima ou conteúdo, no caso, "pedagógico", de intimidade com os objetos.

Características da Obra

  • O rigor composicional do poemas largamente difundido pela crítica nesse livro chega a seu ápice.
  • São quarenta e oito poemas escritos em duas estrofes que muito se assemelham a quadros pictóricos, visualmente considerados.
  • Ao todo cada poema atinge dezesseis ou vinte e quatro versos
  • Todos os poemas do livro estão divididos em duas partes.
  • O universo temático sempre tendo a ver com o Nordeste/Espanha, a condição humana e o fazer poético.
  • Tudo isso numa rede de inter-relações lucidamente arquitetada.
  • A educação pela pedra, publicado em 1966, é aberto com as seguintes palavras:
    “A Manuel Bandeira esta antilira para seus oitent’anos.”
  • Com tal dedicatória, Cabral anuncia ao leitor alguns dos aspectos que fundamentam o seu estilo: a secura de expressão, a ausência de fluidez de seu verso e a predisposição à negação, que marcará muitos dos poemas da obra.

Se o lirismo representa, na poesia, a subjetividade, a valorização dos estados de alma da voz poética, e, como o termo indica, a resolução musical do verso, Cabral optará pela aniquilação do eu, pela observação desapaixonada da realidade e pelo verso de ritmo estrangulado, repleto de pontuação e elipses, em muitas composições.

Em nenhum dos 48 poemas da obra surge o pronome “eu”; é clara, portanto, a intenção do autor em fazer com que se sobressaiam, em sua poesia, os objetivos, os temas e as paisagens aos quais ele alude.

A realidade agreste, com seu solo árido, seus cactos e nãos, será matéria de poema.

E não só como tema ou pano de fundo, pois o estilo de Cabral receberá o influxo do meio e o firmará, através de um verso duro, que não se quer de fácil memorização nem se preocupa em ceder espaço ao entendimento imediato do leitor.

É poesia que exige paciência, estudo e uma reeducação do ouvido e do olhar.

Um dos traços estilísticos mais evidentes da poética de Cabral é a sua disciplina, o seu rigor matemático na construção do poema.

Deixando de lado a concepção romântica, que vê a poesia como fruto de uma inspiração das musas, o poeta pernambucano concebe o poema como o resultado medido de um projeto.

Assim como Euclides da Cunha e Graciliano Ramos, Cabral constata como o meio físico modela o ser humano, fazendo dele o espelho do clima, da vegetação e do solo nordestino, daí a presença marcante e negativa dos cactos e da caatinga em sua poesia.

A educação pela pedra é dividido em quatro seções, cujos títulos são: Nordeste (a), Não Nordeste (b), Nordeste (A) e Não Nordeste (B).

  • O único termo comum aos quatro títulos é Nordeste, que, mesmo antecedido por um advérbio de negação, faz-se presente.
  • É como no movimento dialético em que uma tese só existe porque pressupõe a sua própria negação, ou seja, a existência do que é negado impõe-se, justamente, porque é ela a condição da negação.
  • Cada seção do livro apresenta 12 poemas, sendo que 24 deles privilegiam a realidade pernambucana e os outros, pertencentes às duas partes intituladas Não Nordeste, versam sobre assuntos vários que vão do galo à arquitetura.
  • Sobre os aspectos formais da poesia de João Cabral, comenta Secchin: “Nas seções ou partes minúsculas, os poemas têm 16 versos; nas maiúsculas, 24. (...) A rima, nas duas seções iniciais, comparece, toante, nos versos pares, tendo esquema bastante diversificado (mas nunca deixando de existir) nas partes finais.”
  • Lembramos ao leitor que rima “toante” é aquela que só apresenta correspondência sonora entre as sílabas tônicas da última palavra do verso, por exemplo: “a um banco de areia do mar de chegAda;/ vegetais; de água espaço e sem tempo/ (sem o cabo porque o tempo a arrAsta) .