[Álvares de Azevedo] Álvares de Azevedo é um dos vultos exponenciais do Romantismo. Embora tenha morrido aos vinte anos, produziu uma obra poética de alto nível, deixando registrada a sua incapacidade de adaptação ao mundo real e sua capacidade de elevar-se a outras esferas através do sonho e da fantasia para, por fim, re Pressione TAB e depois F para ouvir o conteúdo principal desta tela. Para pular essa leitura pressione TAB e depois F. Para pausar a leitura pressione D (primeira tecla à esquerda do F), para continuar pressione G (primeira tecla à direita do F). Para ir ao menu principal pressione a tecla J e depois F. Pressione F para ouvir essa instrução novamente.
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Lira dos Vinte Anos

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[Álvares de Azevedo]

Álvares de Azevedo é um dos vultos exponenciais do Romantismo. Embora tenha morrido aos vinte anos, produziu uma obra poética de alto nível, deixando registrada a sua incapacidade de adaptação ao mundo real e sua capacidade de elevar-se a outras esferas através do sonho e da fantasia para, por fim, refugiar-se na morte, certo de aí encontrar a paz tão almejada. Grande leitor, Álvares de Azevedo parace ter 'devorado' tantos os clássicos como os românticos, por quem se viu irremediavelmente influenciado. Embebedando-se na dúvida dos poetas da geração do mal du siècle, herdou deles o pendor do desregramento, para a vida boêmia e para o tédio. Contrabalança a influência de Byron com os devaneios de Musset, Hoffman e outros. Lira dos Vinte Anos, única obra preparada pelo autor, é composta de três partes.

Na primeira, através de poesias como 'Sonhando', 'O poeta', 'A T...' surge o poeta sonhador em busca do amor e prenunciando a morte. Nas poesias citadas, desfila uma série de virgens sonhadoras que ajudam a criar um clima fantástico e suavemente sensual. Por outro lado, em poemas como 'Lembranças de morrer', ou 'Saudades' surge o poeta que percebe estar próximo da morte, confessa-se deslocado e errante, deixando 'a vida como deixa o tédio/ Do deserto, o poento caminheiro'.

A terceira parte de A Lira, praticamente é uma extensão da primeira e, portanto, segue a mesma linha poética. É na segunda parte que se encontra a outra face do poeta, o poeta revoltado, irônico, realista, concreto que soube utilizar o humor estudantil e descompromissado. Esta segunda parte abre-se com um prefácio de Álvares de Azevedo que adverte 'Cuidado leitor, ao voltar esta página!', pois o poeta já não é o mesmo: 'Aqui se dissipa o mundo visionário e platônico.' Algumas produções maiores do poeta aí estão como 'Idéias íntimas' e 'Spleen e charutos', poesias que perfeitamente bom-humor, graciosidade e uma certa alegria.

Deixa-se levar pelo deboche em 'É ela!, É ela!, É ela!, É ela!' , em que revela sua paixão pela lavadeira; em 'Namoro a cavalo', registrando as intempéries por que passa o namorado para encontrar sua amada que mora distante.

Resta lembrar que a obra de Álvares de Azevedo apresenta linguagem inconfundível, em cujo vocabulário são constantes as palavras que expressam seus estados de espírito, a fuga do poeta da realidade, sua busca incessante pelo amor, a procura pela vida boêmia, o vício, a morte, a palidez, a noite, a mulher... Em 'Lembrança de morrer', está o melhor retrato dos sentimentos que envolvem sua vida, tão próxima de sua obra poética: 'Descansem o meu leito solitário/ Na floresta dos homens esquecida,/ À sombra de uma cruz e escrevam nela:/ - Foi poeta, sonhou e amou na vida.'