"Eu sou um punk anarquista... vocês são uns emos do caralho que só pensam em amor nos dias de hoje, enquanto muita gente precisa ser notada, e ouvida para que suas ideias possam fluir e assim tornarmos, ou pelo menos tentarmos melhorar essa porra deste país, Ok? Vão tentar descobrir sua própria identidade, e n&atil Pressione TAB e depois F para ouvir o conteúdo principal desta tela. Para pular essa leitura pressione TAB e depois F. Para pausar a leitura pressione D (primeira tecla à esquerda do F), para continuar pressione G (primeira tecla à direita do F). Para ir ao menu principal pressione a tecla J e depois F. Pressione F para ouvir essa instrução novamente.
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Adolescência: um Bicho de Sete Cabeças?

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Eu sou um punk anarquista... vocês são uns emos do caralho que só pensam em amor nos dias de hoje, enquanto muita gente precisa ser notada, e ouvida para que suas ideias possam fluir e assim tornarmos, ou pelo menos tentarmos melhorar essa porra deste país, Ok? Vão tentar descobrir sua própria identidade, e não ficar se escondendo atrás de mentiras, e modas...”(Anônimo - In: Frases da Adolescência).

Quando se fala em criança e adolescente sua condição de dependentes logo remete à família e à escola, as quais estão interligadas. Muito do que ocorre com o jovem, quase sempre é produto das dinâmicas que se travam, em particular, nos núcleos dessas instituições. Para Derrida (2001) e Roudinesco (2003), não é possível dizer sem hesitar que a família é eterna, uma vez que a mesma está em desordem, e no futuro deve ser reinventada. Penso que a família é eterna porque sempre terá gente com vontade ou necessidade de procriar. E a criança se desenvolve por meio dos seus cuidados ou algo similar. As pessoas resolvem ter filho por diversos motivos: para se sentirem completas; por carência (preferível a um animalzinho); para preencher o vazio existencial e dá sentido à própria vida; para “segurar” o parceiro; para “salvar” o casamento; ou por pressão do social para o casal sem filho (sempre se insinua alguma “anomalia”). Ou seja, o bebê já vem ao mundo com uma atribuição.

Para o ideal romântico essa presença é a forma real que funde o simbólico do seu amor na mais completa simbiose. Porém, a paixão e o amor, por vezes, têm prazo de validade, e em qualquer uma dessas situações para essa “peça” adquirida não tem troca ou devolução. E, antes que ela se torne “dona do seu destino”, haja responsabilidade e esforço para garantir-lhe sobrevivência, educação, e felicidade. É mais comum encontrar nível econômico satisfatório, do que um estado psicológico sem “ranhuras” emocionais. Muitos genitores não estão preparados, e essa tarefa se tornou ainda mais árdua nos dias de hoje, mais do que nunca é preciso muita psicologia e/ou um estrutura de personalidade “saudável” para criar filho(s) “ajustado(s)”. Mas, nesse processo algum pecado é inevitável, para um dado conforto dos pais, diria então que parece melhor pecar pelo excesso do que pela falta.

Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, a família deixou de ser modelo único, nuclear, liberou o homem do papel exclusivo de mantenedor do lar. Grupos familiares são mantidos por mulher (es) ou por outros modos de negociação.  A união cível ou casamento gay, que tem a intenção de legalizar a paternidade ou maternidade com filhos próprios ou adotivos reforça mais ainda que a família não esteja com seus dias contados, do contrário, agora se acentua à sua reinvenção. O sistema comunitário de educação das crianças se extinguiu a partir do Renascimento, século XII, com a descoberta do “indivíduo” (RICHARDS, 1993), e os kibutzim existem em poucos países.

O que prevaleceu foi a tradicional tríade pai, mãe e filho (s), porém isso não quer dizer que tenha sido a formação perfeita, mas apenas o que se pôde, até então, se conceber de melhor daquilo que se denomina família. Roudinesco (2003) critica os gays pela perpetuação desse modelo que haviam contestado e que já se encontrava em plena mutação. Mas, esse é o referencial predominante, portanto é natural que se tenha como o exemplo de agregado. Agora, uma criança pode ter um duplo de pais do mesmo gênero com laços de parentesco.

Segundo Roudinesco (2003), a família dita “moderna” se tornou um receptáculo da lógica afetiva entre o final do século XVIII e meados do XX, e finalmente, em 1960, se impôs como “contemporânea” ou “pós-moderna” (grifos da autora). Mas, independente das diversas formas que a família venha a se amoldar, devido às atuais mudanças sociais, ela está inserida na falência que atinge a maioria das instituições. Como diz Lasch (1991), a família deixou de ser o refúgio sagrado, o abrigo para os sentimentos em um mundo onde a competição rege as demais relações. Para Schrepferman e Snyder (apud GALLO e WILIANS, 2005), a coerção familiar está ligada a estressores intra e extrafamiliar vividos pelos pais, como ausência de apoio externo, questões financeiras e, também estressores que atinge as crianças, como a rejeição dos colegas, baixa auto-estima e fracasso escolar.

Nas famílias burguesas, o desgaste da autoridade patriarcal se deu pelo comportamento do pai visitante noturno, cansado e, muitas vezes, temido e limitador do prazer dos filhos, que os impediu de que se identificasse com ele enquanto autoridade, na medida em que a crescente criação dos filhos pelas mulheres enfraquecia a disciplina (MEAD apud LASCH, 1991; LASCH, 1991; ROUDINESCO, 2003). Nem tanto nem tão pouco, em meados dos anos 60, antes do Movimento feminista e Hippie da contra cultura, os pais ainda tinham o controle da sustentação familiar, desde então perdeu seus parâmetros, se deixou absorver sem filtro pelas influências sociais. Sua coluna vertebral que se mostrou pouco sólida, certamente encobria a fragilidade de sua condução com base na repressão.

A adolescência, ainda sem tanta responsabilidade pelas próprias atitudes, se caracteriza pela passagem para a vida adulta, na qual se espera capacidade para se auto-gerir e se responsabilizar por seus atos. Porém, alguns autores tendem a exagerar o adolescer como trágico. Mead (apud LASCH, 1991) considera a adolescência uma enfermidade, uma febre prolongada, um tumulto de amores obsessivos, e de conflito psíquico. Enquanto Ferrari (1996) e Clerget (2004) percebem no adolescente um ser doloroso, em cujo cerne da existência está à ameaça permanente da depressão. Mas, será que não é possível adolescer sem tanta complicação, de uma maneira amena, responsável e produtiva? O verbo adolescere vem do latim que significa crescer. Por que crescer nessa fase tem de ser tão sofrido? Por que esse período de transição não implica apenas na elaboração de algumas perdas (também do corpo), e na aquisição de novos conhecimentos e autonomia? No meu entender, a adolescência tem inquietações, sim, mas perfeitamente contornáveis, a questão maior é que hoje ela se tornou, apesar de alguns “privilégios” jamais pensados, a exemplo da liberdade sexual com direitos para as moças quase iguais aos dos rapazes, um pouco mais complicada por fatores meramente sociais.

No mundo atual, adolescer nem sempre é um oásis, mas também não parece muito justo rotular de “Crise”, pois tem outras fases da vida muito mais complicadas, a exemplo da velhice que, atualmente, resolveu-se chamar pelo eufemismo irrealista de “Melhor Idade”. A consciência das ascendentes perdas da vitalidade física, mental, do abandono e ostracismo social que, geralmente, retrata o idoso, contém mais itens negativos para se categorizar como crise, do que os conflitos de uma fase que, além de socialmente visada como objeto do desejo, está cheia de vigor físico e possibilidades, que é a adolescência.

O adolescente moderno não encontra pontos de valências positivas institucionais, no geral, nem mesmo nas instituições mais elementares porque estão: insegura ou confusa (família); perdida nas suas pedagogias e metodologias (escola); por vezes suspeita e sem oferecer proteção (polícia); cara, morosa, e que nem sempre funciona (justiça); reserva moral que se revelou uma farsa (a atual política), e como resultado de tudo isso uma estabanada violência urbana. Atualmente, quase todo cidadão vive esse estresse. Antes as instituições, embora mais rígidas, e, talvez, mais camufladas nas suas desordens, mas eram mais confiáveis e, de alguma maneira, funcionavam. A população tinha algum nível de paz social, era possível fazer projetos com perspectivas do realizável. Agora, além de não seguirem a antiga cartilha, não absorveram o aprendizado dessa nova lição ou pressão, se instalou o caos. Nessa sociedade, de fato, as “instituições” que nunca falham são: a Corrupção, a Impunidade, e o Crime Organizado. Este ergue seu poder fálico destrutivo bem visível em chamas nos grandes centros, deixando vítimas e órfãos do descaso.

Tudo isso por conta de uma política, ou pela falta desta, isto é, justa, atuante e séria, e não da assistencialista que improvisa tudo que é Bolsa - o que é muito fácil porque o dinheiro sai do bolso do contribuinte mediante os elevados e absurdos impostos -, para sustentar ociosos, e fazer políticos ganharem votos. O assistencialismo é sintomático, paralisa e infantiliza os “beneficiados”, encobre o confisco dos seus reais direitos, e escamoteia a sua mobilização para efetivas conquistas. Porém, não tem porque se espantar com a corrupção posta, essa deformidade moral é a “cara” do país, com a conivência do povo. Os brasileiros, em sua maioria, exigem dos políticos dignidade e ética, que eles próprios não têm e nem se esforçam para que isso seja uma realidade nacional. Nas suas políticas cotidianas e miúdas agem iguais a alguns parlamentares, a única diferença é de que suas ações politicamente incorretas, ou mesmo ilícitas não atingem populações, e nem aparecem na grande mídia.

Aos cidadãos honestos e trabalhadores, resta se apegar à fé, e rezar, muito, para continuar tendo salário, comida na mesa, e não ser recepcionado com “bala perdida” ou “dirigida”. Nesse imediatismo de guerra, tudo se reduz ao “salve-se quem poder”. E é esta a droga de mundo que crianças e adolescentes estão respirando, sentindo e cheirando. Mas, o cinismo ainda apela para que eles não usem droga, e muito menos que ela seja legalizada. Parece coerente se trabalhar o usuário de droga na proposta da Redução de Danos, pois não parece existir universo para organismos saudáveis. Não é à toa que boa parte dos jovens se tornou egoísta, agressiva, violenta e sangrenta.

Nos Estados Unidos, 19% dos crimes violentos são praticados por adolescentes. Somente no Rio de Janeiro, em 1999, a taxa de homicídios praticados por adolescentes de 15-19 anos de idade, foi duas vezes maior do que na Colômbia. Se por um lado, o assassinato de adolescentes supostamente delinquentes está relacionado à violência estrutural, na qual a sociedade lhes nega o essencial (MEICHENBAUM, OLIVEIRA e ASSIS, MENEGHEL et al apud GALLO e WILIANS, 2005); por outro, “os delinquentes e criminosos não se ressocializam porque para eles não compensa” (SÁ, 2001, p. 24). Alguns comportamentos anti-sociais dos jovens são, na realidade “...um SOS, pedindo o controle de pessoas fortes, amorosas e confiantes” (WINNICOTT, 2002, p.13). Para Dodge e Newman (apud VASCONCELLOS et al, 2006), as crianças e adolescentes com tendências agressivas mostram-se menos eficazes na codificação das informações sociais, bem como os que têm vínculos pouco afetivos com a família se envolvem mais em infrações (STRAUS apud GALLO e WILIANS, 2005). Os infanto-juvenis precisam sentir-se apoiados na sua retaguarda pela família, escola, etc., ter o sentimento de pertença que é uma das grandes necessidades humanas (SCELZA, 2002).

Para, enfim, confirmar o que diz Ricoeur (apud SENNETT, 2002), quando “... alguém conta comigo, eu sou responsável por minha ação perante o outro” (p.174).
Atualmente crianças e adolescentes exercem uma verdadeira tirania sobre as figuras paternas. Diante de tal impotência, como os brasileiros tem mania de achar que tudo que aparentemente funciona no exterior sua fórmula cabe bem aqui, resolveram importar a SuperNanny. Uma caricatura cafona, comportamental, e meio “militar”.

A presença dessa figura é um atestado da absoluta incompetência, do esgarçamento da autoridade e da moral dos pais. Guattari (2000) diz que todo trabalho de ajuda psicológica consiste em mudar as coordenadas enunciativas e não em dar chaves explicativas. Defendo que nenhuma intervenção na família desautoriza ou desqualifica o poder dos pais.

Mas, a Nanny não faz uma intervenção, ela atua, dirige, comanda, e assim, descaracteriza a função paterna. Segundo Lukacs (2005), a privacidade teve mais a ver com o desenvolvimento do culto burguês da família (p.28). Pelo desejo de aparecer, ela agora permite à intromissão dessa “estranha” autoritária que vasculha e expõe a sua privacidade. Essa atuação nivela pais e filhos, deixa explícito para as crianças a falta de estrutura dos seus genitores, do quanto são incapazes para conduzir à dinâmica familiar, portanto são uns fracassados que não merecem respeito. “Educar é também reprimir” (JEDER, 2005, p. 30), colocar limites, não somente por meio de reforço e punição, mas em especial pelo diálogo que procura reestruturar, reatar e fortalecer os vínculos dessas relações.

A intervenção eficaz funciona, mais ou menos, como um técnico de futebol que orienta seus os jogadores, mas independente do êxito ou da tensão de um péssimo andamento do jogo, ele não entra em campo. Essa área verde é um espaço “sagrado” dos jogadores e do árbitro. Assim também deve ser o “campo psicológico” da interação pais e filhos. É preciso “escolher e acolher uma pedagogia amorosa e libertária, ancorada no afeto e na liberdade, bem como no princípio da auto-regulação” - esta, para Roberto Freire, é a capacidade de se autodeterminar, direcionar a existência segundo os  padrões próprios, desejos e pulsões (JEDER, 2005, p. 31). Todo trabalho de intervenção deve ter como meta essa auto-regulação. A família que não aprendeu a mobilizar os próprios recursos, diante de novos conflitos, não vai saber se “virar” sozinha. Cria-se uma dependência, uma insegurança na auto-regulação, uma vez que não está presente, não o “sujeito do suposto saber” (frase de Lacan), mas a “salvadora da pátria”, fonte do próprio saber que retira de dentro da sua “cartola mágica” a melhor solução para todos os impasses.

No fim de cada episódio doméstico, a Nanny se esforça para transparecer alguma emoção, mas meras manipulações de condicionamentos são formam vínculos que caiba uma lágrima. Talvez o adestramento dos ferozes pit bulls seja mais emocionante. Para Erikson, é na Adolescência que são coordenadas concepções que servirão de base e orientação para os anos seguintes de vida (apud SCELZA, 2002, p.57). Tem-se que adivinhar em quais circunstâncias crianças e adolescentes estão sendo nutridas desses pressupostos. Agora em quase toda situação-problema se busca uma Terceira Via, na família (as SuperNannys); na escola (os tais amigos da escola); na empresa (as assessorias, etc.); no governo (as Ongs e os movimentos solidários). Ou seja, as instituições estão sem know-how para exercer os papéis originais para os quais existem ou foram criadas, e, na maioria das vezes, engendram paliativos para resolver seus descompassos, como se, por isso, fossem criativas e atualizadas.

Os tempos modernos de caracterizam pelo embotamento afetivo e pelo tédio, em sociedades que tendem a perder os limites entre o dentro e o fora (MOREIRA, 2003).  O estresse cotidiano, a sobrecarga de atividades, em particular para a mulher, a deixa meio histérica, assim sendo ela grita e ralha com as crianças com espalhafatosa frequência, e assim desqualifica sua autoridade. O marido fica na condição de “reserva”, cuja entrada nesse “cenário”, em tese, se daria em situação de extremo conflito, mas também é outro que não funciona. A neurose das crianças, quase sempre, é o reflexo da neurose potencializada dos pais, da insatisfação, da falta de entrosamento afetivo/sexual do casal. Se o adolescente não aprende a lidar com a ordem e os limites em casa, vai se deparar com os da “rua” que, certamente não “passa a mão na sua cabeça”, e nem sempre é possível burlar, como ele espera e está habituado a fazer com os pais.

Atualmente, muitos filhos são “desconhecidos” dos próprios pais. A ausência de transparência, confiança e verdade chegaram a tal ponto que pais paranóicos, para ter alguma noção do comportamento do filho (a) investigam o perfil dos seus amigos e/ou contratam Detetive para se certificar que o filho (a) está no lugar enunciado. A superproteção implícita rejeição, os pais seguros do seu amor sabem muito bem delimitar territórios. Os limites, por vezes, têm que ser locados com rigor, mas não à toa. Se o adolescente tem motorista, não teria que ir de ônibus para o colégio, porque os pais na sua história escolar não tiveram essa mordomia, o que seria perverso. Para estar “preparado” para a vida, ou ser sensível com os mais carentes, o adolescente não precisa passar, necessariamente, por experiências de petição de miséria. Uma paciente controlava a mesada da filha adolescente, que sistematicamente ajudava nos negócios da família, diante da repetição da sua biografia de carência no passado, de modo saudável a jovem desabafou: “Mãe você que foi pobre, eu não tenho nada a ver com isso!”.

Para Bauman (2000), a família, hoje em dia, não se encontra em melhor estado - ela parece tudo, menos um paraíso seguro e duradouro onde se possa lançar a âncora da própria existência vulnerável e sabidamente transitória (p.48). Quando se tinha alguma estabilidade, os pais educavam os filhos orientados por seus sentimentos, apesar das “castrações”, as famílias eram menos perturbadas. Com a globalização os valores mudaram, e os pais estão em meio às dúvidas, desestabilização e insegurança. Mas, à parte os ansiogênicos circunstanciais, muitas famílias têm núcleo patológico, ou atitudes de insanidade que compromete seus membros. Não é raro ter pacientes cujos parentes estão visivelmente empenhados em enfraquecê-los psicologicamente, para tirar proveito financeiro ou alívio moral, embora tentem convencer da sua “preocupação amorosa”. Freud já denunciara a “desrazão do cotidiano” ou a “psicopatologia da vida cotidiana”, nos trânsitos das normalidades sociais.

Na vida doméstica, o amor e o ódio contidos se expressavam causando tensões, mas também alimenta a fonte da vitalidade familiar (LASCH, 1991). Mas, por vezes a pressão dos conflitos vence. Atendi a “ex-amicíssima” (paixão sublimada) de um adolescente super-popular no colégio que, antes de se jogar do terraço do seu prédio, deixou um bilhete para a mãe: “Agora você vai ter motivo para sofrer!”. Havia meses ele andava desapontado, pois encontrara pistas de que os pais fumavam maconha (cannabis sativa) em casa. Embora não se saiba o motivo do seu gesto, mas, é bem provável que não tenha sido por conta disto. A paciente, também adolescente, lhe sugeriu terapia, e ouviu dele que isso é coisa de “boiola”. Ainda com vida, depois de saltar para a morte, ele pediu que fizessem de tudo para salvá-lo, o que já era muito tarde. O que seria um momento de aprendizagem para elaborar juntos o impacto dessa perda, e refletir sobre esse trágico, o educandário, que têm psicólogas, fez questão de abafar o fato. Para Elias (2001), é salutar que as crianças tenham consciência da finitude das próprias vidas e a dos outros.

O suicídio é a segunda causa morte da faixa etária dos 15-19 anos de idade, nos EUA. Mil jovens, de 15-24 anos de idade, morrem a cada ano por suicídio na França. Um adolescente em cada dez declara ter ideia suicida (CLERGET, 2004). O Japão tem as mais altas taxas, e o Brasil um dos menores índices, em média, 4,9 de pessoas cometem suicídio para cada 100 mil habitantes. Obviamente, não se trata de suicídios ideológicos, do harakiri, do homem-bomba, etc., mas existencial, da intempérie de não viver de acordo com os seus propósitos. O que há de comum nesses suicídios? Para Pellizzari e Almeida (2001), o homem só pode ser empurrado até um certo ponto e nenhum passo a mais, que além desse, prefere a morte.

Assim sendo, a morte não é temida, ela surge como uma necessidade. No entender de Clerget (2004), a tentativa de suicídio se produz quando os mecanismos de proteção à experiência dolorida são inoperantes. O depressivo tende a ruminar seus problemas e seu passado, a sentir remorso, e procura imaginar soluções por meio de alguma força oculta ou onipotente. Moraes  et al (2006) chamam a atenção para o fato das evidentes implicações sociais nas condutas depressivas e suicidas. Para Menninger, os conflitos básicos do depressivo suicida é o desejo de morrer, matar ou ser morto (apud MORAES et al, 2006).

O suicídio na infância também cresce, e é mais frequente do que se possa imaginar. Segundo Fensterseifer e Werlang (2003), as tentativas de suicídio ou a sua consumação, está associada às crises de disciplina em casa, humilhação fora dela, culpa por não atender as expectativas dos pais, ambiente estressante, falta de afeto, negligência emocional, etc. As crianças menores usam mais o estrangulamento, o enforcamento, a precipitação sob carro e afogamento. Intoxicação é mais comum em criança a partir dos 10 anos de idade (PEDROSO et al apud FENSTERSEIFER e WERLANG, 2003). Nem sempre a ideação do suicídio é manifesta, assim não se percebe que o jovem está tentando se matar, seja através da droga, ou se precipitando em perigos que possam ser justificados como “eventualidade” - dirigir alcoolizado e em alta velocidade, “racha”, etc., são tentativas explícitas.

Há um outro aspecto relevante nessa questão: o culto à juventude. Os adolescentes se angustiam com a ideia do envelhecimento (CLERGET, 2004). No que é reforçado pela ênfase social de aumentar, consciente ou inconscientemente, o tempo de vida, de esconder as rugas, resistir à ideia do seu próprio envelhecimento e morte tanto quanto possível (PELLIZZARI e ALMEIDA, 2001; ELIAS, 2001). Muitos até dizem preferir morrer jovem que chegar a envelhecer. Na opinião de Kehl (2003), a televisão apela, sim, a que todos os corpos sejam belos, sensuais, sadios, desejáveis, “até mesmo na fome e na privação os jovens de hoje ostentam corpos altivos, belos, erotizados” (p.246). Ser desprovido desses predicativos pode levar à baixa auto-estima como um agravante para o ideário suicida.

Aqui serão comentados, em síntese, os casos de duas adolescentes, ex-pacientes, de aparência normal que se auto-depreciavam, se consideravam feias - uma se sentia obesa por um pouco mais de peso, tinha refluxo, e problemas sérios com o frio; a outra, negava o corpo, detestava e temia seu batimento cardíaco -, e também mostrava como algumas famílias estão agonizando. A primeira, de quinze anos de idade, em suas crises de sonambulismo, por três vezes, subiu para o alto do prédio. Na parte externa do mesmo, de camisola, com os braços para trás agarrada numa barra de ferro, ensaiava, em meio à ventania, se precipitar para morte, estendia uma perna para o infinito, e alternava com a outra. Perguntei por que ela não dava o segundo passo? Ela respondeu que pensava no irmãzinho que ficaria sozinho. Falei que não era ele quem a impedia de despencar lá de cima, era o seu desejo de viver, motivo pelo qual me procurou.

Quando criança essa adolescente perdeu um parente (carinhoso, divertido e motivador) que ocupava o lugar do seu pai ausente. Por várias vezes foi castigada por não dizer a verdade, e de repente descobre que todos mentiam, o pai tinha amante, e a mãe deixava implícito que o traia, etc., ela ficou sem “chão”. A família nunca soube que era a própria causa desses ensaios mórbidos, mas também em que esse reconhecimento ajudaria? Enfim, depois de mais de um ano de terapia, a sua madrinha fez questão de, em alto e bom som, diante das pessoas na recepção da clínica, agradecer o que eu tinha feito por sua afilhada. Uma garota sensível, muito inteligente, mas que “era preguiçosa” para estudar, me facilitou em ajudá-la ver os seus potenciais, e fazer valer à sua vida.

Esse outro caso, a mãe uma sulista enorme fez questão de deixar claro que a garota inventou esse negócio de terapia porque algumas colegas do colégio faziam, mas que não precisava, porque elas se davam muito bem. Não demorou muito para constatar que não se tratava de uma simples imitação do tipo “Maria vai com as outras”. Essa jovem, de quatorze anos de idade, tinha necessidades reais e sérias. Na seção seguinte revelou um ódio mortal pelo pai - também ausente, pelo qual tinha admiração por sua “garra” empreendedora, mas não admitia -, e que viver era uma perda de tempo, então por que não antecipar já que sabia toda história? O final do segundo mês de terapia coincidiu com suas férias letivas, e ela aproveitou para não mais voltar.

Não consegui retomar a “conversa” com sua mãe, a secretaria informou que a mesma não estava encontrando um jeito de sair às escondidas, falar para o marido que ia ao psicólogo seria inadmissível. Segundo Lasch (1991), a família já não mais proporciona recursos emocionais para enfrentar a sociedade moderna. Agora, longe de preparar os jovens para essa penosa experiência, ela se mostra inadaptada. Percebo que, em especial, na Orientação Vocacional que muitos adolescentes mesmo sem assistência emocional materna e/ou paterna, no entanto não deixam de ser direta ou indiretamente exigidos de que sejam bem sucedidos na vida afetiva, e na escolha profissional. Ou seja, em áreas delicadas e cada vez mais competitivas, respectivamente.

Para Mowrer, uma das facetas mais pronunciadas e surpreendentes da modernidade é a repressão das emoções (apud LASCH, 1991). Cada vez mais pacientes pedem para se livrarem da emoção, a vontade de se tornarem “máquinas”, acham que o domínio da razão os poupa das dores emocionais e das angustias cotidiana e existencial. Preocupante é que esse clamor venha de gente muito jovem já desencantada com a vida. Essas pacientes adolescentes não aceitavam a emoção porque as faziam sentir-se fragilizadas, sozinhas, e a morte era o desejo inconsciente de estancar esse sofrimento. Regidas pelo “imperativo do gozo” (expressão de Lipovetsky), as pessoas estreitam o limiar de tolerância para mal estar físico e psicológico, até para a perda recente, por morte, de ente querido, não se permitem ao “tempo devido” para elaboração do luto. Afinal, para quê sofrer se o mercado farmacêutico tem sempre uma pílula para todos os incômodos e males?

Não se espera que “abracem” ou se “debrucem” sobre a dor de modo masoquista, no entanto a vida não está nos extremos de inferno absoluto ou paraíso. A dor, por vezes, é inevitável, porém com amparo da família, dos amigos, ela se torna suportável. As sociedades instigam o fútil, superficial, ao prazer anônimo e imediato, assim, gera-se “robôs” para produzir e reproduzir os prazeres egoístas ditos mundanos, considerados como modernos. Mas também se ver extremos, jovens engajados em religiões que se apuram em posturas adocicadas, enjoativas e muito “santas”, que excluem o sexo, o prazer sensual ou disfarçam sua relevância. A dor, os prazeres e a frustração fazem parte do viver, assim sendo, cabe ao humano vivenciá-los e aprender a “endurecer sem perder a ternura” como filosofava Che Guevara. O que não é nada fácil, uma vez que, “endurecer” geralmente também faz secar junto os líquidos da sensibilidade, da poesia, da compaixão e do amor.

Educar já dizia Freud é uma tarefa impossível. Os desequilíbrios e vícios dos jovens não estão, necessariamente, no adolescer, mas como foi visto acima, passa pela família, pela escola, pela política, etc., que não mais apresentam firmeza de caráter, coerência nos afetos e nas condutas do educar. Segundo Lévy (2005), uma comunidade virtual se aproxima do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais rápido, mais capaz de aprender e de inventar do que um coletivo inteligentemente gerenciado. Será? Os valores estão de “ponta cabeça”, e não se sabe mais em quem acreditar ou confiar. A paranóia é generalizada, onde parece não existir saídas, mas apenas aberturas de fuga, no narcisismo do culto ao corpo; no se expor ou se esconder na Internet e outros. A limitação em não dá conta do real, fez do homem um caçador de espaços imaginários para negar ou fugir da natureza. A realidade virtual deve ser considerada como um satélite auxiliar da realidade, e não para sobrepujar as naturezas. Estas que implacáveis na sua lei do retorno, nunca deixam de cobrar “satisfação”.

No entender de Guattari (2005), a juventude embora esmagada pelo econômico dominante que lhe confere um lugar precário e manipulado pela mídia, mesmo assim, não deixa de desenvolver as suas próprias distâncias de singularização em relação à subjetividade normalizada. Esta afirmativa me parece questionável, pelo o exposto e pelo que destaca Bourdieu (2001), quando diz que a “civilização” do jean, coca-cola e de McDonald`s tem para ela não somente o poder econômico mas também o sistema simbólico  que exerce uma intermediaria sedução da qual eles mesmos contribuem para ser vítimas (p.80).  

Hoje, os pais não encontram um equilíbrio em dosar a liberdade dos filhos, ficam com as “rédeas soltas” ou no “policiamento” neurótico que emperra a ambos de crescer. Embora não se admita, no entanto, considerado o atual contexto, não há nada de excepcional no fato de os jovens se doparem, seja com drogas ilegais ou lícitas. Winnicott (2002), diz que a energia instintiva reprimida constitui um perigo potencial para o indivíduo e para a comunidade, e que existe uma relação entre a tendência anti-social e a privação. Porém, certos atos de delinquência não se dão pela privação ou carência, mas pelo excesso de liberdade e a certeza de que saem ilesos devido à quebra dos valores morais e éticos. Para Bauman (2000), nem tudo o que se deseja é permitido, e quase nada pode ser completamente alcançado para a satisfação total do desejo. Os adolescentes estão com muita dificuldade de lidar com esforço, limite e frustração.

Nesse item entra o papel da escola que não é somente de ensinar a pensar e incitar os jovens a refletirem sobre temas importantes para o futuro do planeta, mas também de trazer à consciência a complexidade e as incertezas, ajudar a aprender a viver (PAILLARD, 2002; MORIN, 2002). Entretanto, muitas escolas são verdadeiras universidades e vice-versa, para o politicamente incorreto, os professores não são mais respeitados, e muitos abusam do poder. Em algumas escolas prevalece a lei do menor esforço, e muitos alunos acham que só têm direitos. Para Demo (2005a), a cola bem feita é a única coisa criativa na prova, ainda que seu objetivo seja apenas de reproduzir, e para ter platéia alguns mestres recorrem à aula “divertida” e de “efeitos especiais”, etc. Ele reconhece que nem todos os professores são bons “palhaços” ou contadores de piada, e que a velha aura da aula virou trambique, assumiu o vezo imbecilizante de reproduzir o que já foi reproduzido. Este autor conclui que, para aprender o aluno inteligente não precisa assistir aula, pois não vale a pena, ele encontra o conteúdo na internet.

Este raciocínio vê o método de aprendizagem via internet como sendo mais interessante para o aluno, por isso ele pretere a escola. Pesquisas sugerem que crianças e adolescentes brasileiros passam mais tempo assistindo televisão do que na escola (SILVA e MALINA; LOPES e PIRES-NETO apud FONTANELLA, 2006). Porém, mais da metade das escolas não têm como competir com a Televisão, o Computador, e a Internet. Estes três desdobramentos virtuais da realidade tão presentes hoje em dia, e que representam fielmente o contexto social, por atender a demanda das necessidades para as quais foram forjados. Como diz Bauman (2004), a vida consumista favorece a leveza e a velocidade, a novidade e a variedade que elas promovem e facilitam (p.67).

Nessa aceleração, para quem não desenvolveu o hábito da leitura, o ato de estudar parece uma tarefa meio arcaica, além do que exige investimentos e abnegações, é até mesmo uma “freada” na vida social, portanto estudar é uma atividade que, para muitos, beira o intolerável. Por mais que a tecnologia ou a informática se aprimore, não vai eliminar da aprendizagem sua condição de exercício, às vezes, exaustivo de repetições. Esse é um aspecto que terá de ser suportado, pois faz parte da limitação da biologia animal do homem. Com pertinência Silva (2003), diz que os alunos deixaram de valorizar o saber formal, manifestam desagrado pela escola porque antes se tinha como certo que ela seria o instrumento para a realização dos seus desejos, hoje o saber formal não mais garante ascensão social, “o que querem - beleza, força física, status financeiro e social - não é oferecido por esta instituição”(p.253).

Para muitos adolescentes meia hora de leitura é insuportável, no entanto se deixam “hipnotizar” por doze ou mais horas na Internet - esta que nas repartições públicas e privadas está caindo como uma “luva” para funcionários concentrados nas salas de bate papo, MSM, etc., fingirem que estão trabalhando. A educação exige esforço e privações, e hoje não dá mais garantia de um futuro promissor, enquanto os infanto-juvenis vêem na TV o glamour de ignorantes que se tornam milionários; beldades, sem escolaridade, que viram celebridades; e até quem tem apenas a 5a série do ensino fundamental ganhar, por duas vezes, eleição para presidente. A partir desse quadro que relevância tem a educação, e que estímulo o jovem pode encontrar para estudar? Enquanto os autores estrangeiros destacam a necessidade de uma ampliação na responsabilidade da escola, os autores nativos parecem encontrar mais motivos no corpo docente para explicar a evasão do aluno da escola ou o seu faz-de-conta que é estudante. Ou seja, olhares diferentes sobre, praticamente, uma mesma situação, mas uma coisa é certa: alguma mudança muita séria que envolva escolas, alunos, etc., terá que ser feita.

Avessa à coisa “maçante” do livro, a Internet dá poderes extras e imediatos ao usuário, além de uma variedade de opções que o estimula, que lhe dá a sensação de aventura. Quando se enfeza, deleta, e estabelece novas conecções. Ela atende a necessidade de segurança e a esquizoidia das relações, é o “lugar” em que todos se encontram onde não estão, uma vez que, em qualquer lugar que estejam não permitem se encontrar. Simplesmente, porque se bastam na artificialidade, no efêmero, do movimento que trás a ilusão de vida ou que estão vivendo. Bauman (2004) salienta que, nos dias de hoje, a dignidade tem pouca utilidade, e que programas do tipo Big Brother reforçam que este mundo é duro, feito por indivíduos duros baseados unicamente em seus próprios ardis, para ultrapassar e superar uns aos outros. Nesse sentido, Kristeva (2002), contempla dizendo que o cidadão pós-moderno se tornou um cruel sem remorso que está perdendo sua alma.

É preciso parar de ver a humanidade como uma coisa dada, fixa, mais, sobretudo, como um produto de um devir sempre muito ambivalente (MORIN, 2000). Isto é fato, uma vez que a sociedade está em constantes transformações, porém nem sempre mudar tem como resposta a excelência no resultado, e de que educar nessa perspectiva não significa descartar valores que são fundamentais para a convivência na família, na escola, na comunidade, etc. Nessa ânsia pelo novo, “quando não se pode mudar a realidade, mudam-se os nomes” (DEMO, 2005a, p.20). Por considerar determinados valores como “caretas”, ultrapassados, etc., é que se entrou nessa bancarrota. Na realidade, qualquer disruptura só acontece quando se conhece, pois “quem conhece não aceita o que está dado, nem biológica, nem historicamente, pois imagina poder fazer diferente, ser diferente, pretender muito mais” (DEMO, 2005b, p.15).

O conhecimento leva ao saber, e este a consciência que liberta ou, pelo menos, se espera, do contrário todo investimento, desde o jardim da infância, teria sido em vão. Deleuze (apud BADIOU, 1997, p.38) diz que “só o homem livre pode compreender todas as violências em uma só violência, todos os acontecimentos mortais em um só Acontecimento” (grifo do autor). Os jovens precisam de significantes, de segurança e estabilidade, porque além das suas inquietações pessoais terem que conviver com o caos social é uma pressão que pode está acima do seu limiar de tolerância. Sobretudo, para aqueles que adentram a vida adulta com bastante precocidade, pois logo estarão enfadados do próprio adolescer, e as drogas podem lhes servir como um “bálsamo”.

A sociedade, como diz Jeber (2005), imprime suas bases na competição exacerbada, no individualismo, no imediatismo, no poder e no sucesso (p.25). Dentro desta perspectiva do quantitativo, para ser bom tem que Ser ou Ter muito, daí a onda dos adolescentes e jovens de quem beija mais nas baladas (ZAKABI, 2006). Tenho a impressão que essa empolgação pelo beijo seja uma substituição do ato sexual propriamente dito, por conta do preservativo - que é necessário, mas não tem como desconhecer que retira um pouco do prazer. Os jovens deviam ser incentivados a usarem sua energia mental e libidinosa de maneira criativa. Porém, alguns profissionais para parecerem modernos acham essa prática, que antes de vulgar é anti-higiênica, como bacana, natural, sem consequência negativa. Porém, isso reforça o quantitativo do promíscuo, vazio, em detrimento do qualitativo consistente e enriquecedor. Castoriadis (apud BAUMAN, 2000) foi assertivo quando afirmou que nossa civilização parou de se questionar, no que é corroborado por Lukacs (2005) quando diz que devemos nos engajar num repensar radical do “Progresso”, da história, da “Ciência”, das limitações de nosso saber, de nosso lugar no universo (grifos do autor).

Finalmente, segundo Bauman (2000), o mais sinistro e doloroso dos problemas contemporâneo pode ser melhor entendido sob a rubrica Unsicherheit, termo alemão que engloba as palavras incerteza, insegurança e falta de garantia. O Unsicherheit acrescido das dificuldades inerente ao adolescer, só pode deixar os adolescentes feitos “barcos sem rumo” beijando tudo que é boca, “ficando” com tudo que é corpo na esperança de que possam encontrar algum “porto seguro”. Numa sociedade tóxica por todos os lados, o mais intenso “grito” de autonomia é não ceder aos brilhos e prazeres artificiais, nem se refugiar na morte ou nos seus derivados, mas, aprender com as situações críticas. Como diz Rolnik (2006), a resistir o terrorismo contra a vida em sua potência desejante e inventiva e continuar teimando em viver (p.52). Enquanto as instituições não se recompõem, se é que isso seja possível um dia, está a oportunidade dos jovens surpreenderem com bons exemplos.

Livro do Autor Valdeci Golançalves

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