A história da escrava Isaura se passa nos primeiros anos do reinado de D.Pedro II, nos Campos de Goitacases, à margem do Paraíba, no Rio de Janeiro. Pressione TAB e depois F para ouvir o conteúdo principal desta tela. Para pular essa leitura pressione TAB e depois F. Para pausar a leitura pressione D (primeira tecla à esquerda do F), para continuar pressione G (primeira tecla à direita do F). Para ir ao menu principal pressione a tecla J e depois F. Pressione F para ouvir essa instrução novamente.
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A Escrava Isaura

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por:

[Bernardo Guimarães]

O Autor

Nasceu em Ouro Preto, em 1825. Cursou Direito em São Paulo, onde foi colega de Álvares de Azevedo. Formado, vai ser juiz em Catalão [Goiás]. Foi Jornalista e professor de Retórica e Poética do Liceu Mineiro. Em Queluz, ministrou aulas de latim e francês. Poucos anos depois, voltou a Ouro Preto, onde faleceu em 1884.

Bernardo Guimarães é o criador do romance sertanejo e regional, fixando as paisagens e costumes de Minas Gerais e Goiás.

Obra Escrava Isaura

Capa do Livro a Escrava IsauraA história se passa nos primeiros anos do reinado de D.Pedro II, nos Campos de Goitacases, à margem do Paraíba, no Rio de Janeiro. Malvina é moça rica e senhora da casa, onde mora Isaura, a escrava, bela e jovem, de propriedade da sogra, fazendeira abastada que, antes de morrer, pede à nora para olhar e libertar sua escrava predileta, educada e tratada como filha pela velha senhora, mãe de dois rapazes, Leôncio e Henrique.

Malvina é casada com Leôncio, proprietário da fazenda, onde o casal vive. A jovem esposa havia sido prometida a Leôncio por acordo dos pais e o moço, um perdulário, esbanja a fortuna paterna. O sogro de Malvina, um comendador devasso e agressivo voltou os olhos para a mãe de Isaura, Juliana. Esta se apaixona pelo feitor da fazenda, Miguel, e desse encontro nasce Isaura. Enfurecido com o comportamento da moça, o comendador a submete a tamanhos maus tratos que a escrava falece, deixando a filha, educada pela patroa solitária.

Destino semelhante parece estar reservado a Isaura. Leôncio passa a perseguir a moça, cortejando-a para seduzi-la. Tal ousadia provoca ciúmes na ex-amante, a escrava, Rosa, que faz insinuações sobre o comportamento de Isaura para Malvina, tentando despertar ciúmes na patroa. No início Malvina resiste, porém acaba por acreditar em Rosa e Isaura é levada para a senzala, juntando-se às demais escravas. Dessa forma, fica mais próxima das atrocidades do patrão rejeitado.

Miguel, o pai de Isaura, resolve vir em socorro da filha, pois conseguira juntar os dez contos de réis, exigidos, na época, pelo comendador para a libertação da moça. Mas Leôncio se nega a entregar-lhe a filha, forçando-o a criar um plano de fuga para os dois. Fogem em um navio negreiro para o Recife, onde conseguem alugar uma chácara, afastada do grande centro. Vivem discretamente até que um jovem estudante de Direito, Álvaro, um liberal republicano, quase socialista e abolicionista exaltado, ouve Isaura cantando. Descobre a bela moça, que diz chamar-se Elvira e o pai, Anselmo. O rico rapaz, órfão, dono de uma fortuna de dois mil contos de reis, nem desconfia que a jovem, com uma pinta negra, no rosto, é uma escrava e apaixona-se perdidamente por ela.

Pai e filha são convidados por Álvaro para um baile e temerosos de levantarem suspeitas decidem ir à festa. Isaura está decidida a contar a verdade, mas diante de conflituosas considerações, desiste do intento. Na festa, todos só têm olhos para a bela acompanhante de Álvaro, mas Martinho, um dos convidados, soube, através de anúncio, impresso num jornal do Rio de Janeiro, da fuga de uma escrava e seu pai e daria recompensa de cinco mil contos de réis a ser paga a quem descobrir o paradeiro dos fugitivos. Imediatamente, relaciona pai e filha com os do anúncio e corre à polícia para dar queixa, retornando à festa para desmascarar ambos. A prova de que a moça é a escrava fugitiva é um sinal de queimadura que traz acima do seio.

Álvaro chama Martinho para um lado e, conhecendo o caráter do rapaz, oferece-lhe o dobro da recompensa para que desista da ideia e, diante de todos, afirme ter se enganado. Ele assim o faz. Entretanto, não abandona a ideia da captura. Escreve a Leôncio, dizendo que encontrou a escrava, mas o fazendeiro vingativo decide vir recapturá-la, enfrentando Álvaro que sai perdedor na contenda. Leôncio leva Isaura e o pai e, Martinho perde os dez mil contos de réis, enquanto Álvaro fica entregue ao desencanto.

O fazendeiro resolve se reconciliar com a esposa, por interesse monetário, pois sua fortuna vai mal e só Malvina pode salvá-lo da bancarrota. Afirma que dará liberdade à Isaura, conforme o desejo da mãe, desde que a escrava se case com o horrendo jardineiro anão, Belchior. Pretende deixar Miguel sob seu jugo, enquanto aguarda dias melhores para se aproximar de escrava, ao mesmo tempo em que satisfaz o desejo da esposa.

No dia do casamento, chegam senhores à porta e, Leôncio, certo de que se trata do juiz de paz, pede que chamem Malvina, Isaura, Miguel e Belchior para dar início à cerimônia. Surpreendentemente, é Álvaro quem se apresenta e comunica que tudo o que pertence a Leôncio passou às suas mãos, visto ter comprado todas suas dívidas. Portanto, Isaura, também, não é mais sua escrava. Oferece o braço à amada que clama perdão para os patrões. Leôncio, cego de ódio, diz que jamais viverá da clemência de Álvaro e, rapidamente, vai para o quarto ao lado de onde se ouve um tiro. Malvina, aterrorizada, cai; Leôncio estourou o crânio com um tiro de pistola.

As personagens de Escrava Isaura

  • Isaura, a heroína escrava, é branca, linda, pura, virginal e possui um caráter nobre e demonstra "conhecer o seu lugar": do princípio ao fim, suporta conformada a perseguição de Leôncio, as propostas de Henrique, as desconfianças de Malvina, sem jamais se revoltar. Permanece emocionalmente escrava, mesmo tendo sido educada como uma dama da sociedade. Tem escrúpulos de passar por branca livre, acha-se indigna do amor de Álvaro e termina como a própria imagem da "virtude recompensada".
  • Leôncio, vilão da trama. Filho único do comendador Almeida, o dono da fazenda situada em Campos dos Goitacases (RJ), é uma criança difícil, que cresce e se torna um homem inescrupuloso. Casa-se com a rica Malvina, mais é incansável na perseguição a Isaura.
  • Tomásia é a condessa de Campos, rica e bonita, uma das maiores inimigas de Leôncio, devido as maldades que este praticou contra ela. Antes de se tornar condessa ela era uma camponesa simples, mas depois de rica, se torna uma mulher poderosa que faz de tudo para se vingar de Leôncio.
  • Álvaro, o bom moço da história. Conhece Isaura quando esta foge com o pai para Recife. Tornam-se amigos e em pouco tempo a amizade dá lugar a um profundo amor. Por princípio, Álvaro é abolicionista e, como prova, emancipa todos os escravos que eram herança da fazenda de seus pais. Apaixonado por Isaura, o grande obstáculo que Álvaro precisa vencer é o fato de Isaura ser propriedade legítima de Leôncio. Para isso, vai à corte, descobre a falência de Leôncio, adquire seus bens e desmascara o vilão. Liberta Isaura e casa-se com ela, desafiando, assim, os preconceitos da sociedade escravagista.
  • Miguel, pai de Isaura, foge do conceito tradicional do mau feitor. Quando feitor da fazenda de Leôncio, tratara bem aos escravos e amparara Juliana, mãe de Isaura, nas suas desditas com o pai de Leôncio. Pai extremoso, deseja libertar a filha do jugo da escravidão e não mede esforços para isso.
  • Martinho é o estereótipo do ganancioso: cabeça grande, cara larga, feições grosseiras e "no fundo de seus olhos pardos e pequeninos reluz constantemente um raio de velhacaria". Por querer ganhar muito dinheiro entregando Isaura ao seu senhor, acaba por não ganhar nada.
    Belchior é o símbolo da estupidez submissa e também sua descrição física se presta a demonstrar sua conduta: feio, cabeludo, atarracado e corcunda. O crítico Manuel Cavalcanti Proença aponta "o parentesco entre o disforme e grotesco, Belchior é o Quasímodo de O Corcunda de Notre Dame, de Víctor Hugo, romance de extraordinária voga, ainda não de todo perdida, no Brasil."
  • Dr. Geraldo Advogado conceituoso, é o ponto de equilíbrio para Álvaro ponderar suas atitudes em relação á condição de Isaura como escrava.
  • Malvina, esposa de Leôncio, jovem rica e ingênua, que fica com o tempo barbarizada com o comportamento do marido, com o tempo vai tendo ódio de seu comportamento, depois da misteriosa morte de Leôncio se casa com dr. Geraldo.
  • Branca, u ma jovem rica, ela é irmã de Geraldo, gosta muito de Álvaro mas não se conforma em Álvaro se apaixonar por um escrava. Mas com sua chegada à Campos, ela e Leôncio se tornam cumplices, e fazem planos para separar Isaura de Álvaro.
  • Rosa, b Bonita e ousada, nascida na senzala de Leôncio, descobre que é filha de um Coronel que, por coincidência, é pai de Malvina, se engraçou com sua mãe antes dela nascer. Sabendo disso, sua esposa manda quebrar todos os dentes da escrava e matar Rosa, mas a escrava grávida foge para a Fazenda de Leôncio.
    Poucos anos depois de Rosa nascer, sua mãe morre, mas Rosa cresce até se tornar uma mocinha. Logo depois que o coronel descobre que Rosa está viva e na fazenda de Leôncio, ele a compra por muito dinheiro, e então a assume como filha.

Obs: Na 3ª edição do livro os personagens Tomásia e Branca não participam, não existe nenhuma menção a eles. Em relação a Malvina, o livro não menciona que ela tenha se casado com o dr. Geraldo. A personagem Rosa não é filha de coronel algum, é apenas uma escrava.