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Noite na Taverna

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Elementos da narrativa

a) Enredo:

A narrativa é composta de sete quadros intitulados: "Uma noite do século", "Solfieri", "Bertram", "Gennaro", "Claudius Hermann", "Johann" e "Último beijo de amor".

O enredo se passa com um grupo de jovens numa taverna. Reunidos, eles contam histórias por assuntos diversos, mas com um elo comum: todas são trágicas, impregnadas de vícios, de crimes hediondos que vão de assassinatos a incestos, de infanticídios e fratricídios. Todos os casos são repassados de amor pervertido, cujos pares se envolvem em relações delirantes, absurdas e pouco reais.

b) Personagens:

Caracterização dos personagens 

Solfieri era um jovem boêmio alcoólatra, persistente, pois fez de tudo para alcançar o amor da mulher.

A mulher amada e idolatrada de Solfieri era como um anjo para ele. Era uma pessoa que sofria de catalepsia e era depressiva.

 Bertram era ruivo, tinha pele branca e olhos verdes. Alcoólatra, boêmio e influenciado por sua amada, muda seu jeito amável de ser, tornando-se um ser obscuro e cheio de vícios, provocando a sua própria decadência.

Ângela era uma morena andaluza. Na visão de Bertram, era calma, pura, uma mulher perfeita, um verdadeiro anjo. Mas no decorrer da história, como prova de amor, ela se revela, mostrando seu lado agressivo e voraz.

A mulher do comandante era branca, melancólica, triste e carente. Era pura, mas suas atitudes no decorrer da história, mostram o quanto era infiel.

O comandante era um homem belo, com rosto rosado de cabelos crespos e loiros. Era valente, brutal, mas um bom esposo.

Gennaro era um pintor bonito quando jovem, puro, pensativo e melancólico. Era cínico e não respeitava o sentimento dos outros. Tornou-se desonrado, mas não podia esquecer seu grande amor, Nauza.

Godofredo Walsh foi professor de pintura de Gennaro. Era robusto, alto e forte. Casou-se duas vezes. Agia por impulso, pois queria vingança ao saber que foi traído pelo seu próprio aluno.

Laura era filha de Godofredo do primeiro casamento. Pálida, de cabelos castanhos e olhos azuis. Amava Gennaro, mas era um amor puro, sem malícias. E desse amor geram-se desilusões.

Nauza era jovem, bonita, tinha a pele macia, sentia-se carente, mas encontrava carinho nos braços de Gennaro, seu amor.

Claudius Hermann era muito rico e por isso, gastava muito em orgias. Não se importava com a desonra, nem com o adultério. O que lhe importava era ter a sua amada, Eleonora.

A Duquesa Eleonora era bela, pura, linda e vaidosa. Tinha a pele alva e cabelos negros. Seu rosto era rosado, seu lábio fino e avermelhado. Ela amava o seu marido, mas resolve fugir com Claudius após ter se relacionado com o mesmo pensando ser seu amor. Esta atitude estranha da moça se deu por ela não querer ser considerada adúltera.

O Duque Maffio era marido da Duquesa Eleonora. Amava-a loucamente, o que o levou ao assassinato de sua esposa e o seu suicídio.

Johann era um boêmio obsessivo, curioso e nervoso. Desonra a própria irmã e mata o irmão, sem saber.

Artur ou Arnold era um rapaz loiro de feições delicadas, possuía o rosto oval e faces avermelhadas. Amava muito Geórgia.

Geórgia irmã de Johann era pura, inocente e apaixonada, mas no decorrer da história ela se entrega para ele crente de que era para seu amor.

O Irmão de Johann era protetor, uma vez que ao ver que um homem desonrara a irmã, quis matá-lo.

Protagonistas

Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann, Johann, Artur, Geórgia.

Personagens secundários

Mulher de Solfieri, Ângela, Godofredo Walsh, Laura, Naura, Eleonora, Duque Maffio.

c) Tempo:

 Sobre os limites do tempo e do espaço nada se encontra de seguro ou de definitivo, como datas época ou duração. Os fatos acontecem em alguma taverna, em algum lugar, em algum tempo, tudo muito vago.

O livro foi escrito tanto em tempo cronológico como em tempo psicológico. O tempo que decorre dentro da taverna é cronológico, real: "Cala-te, Johann! Enquanto as mulheres dormem e Arnold - o loiro - cambaleia e adormece murmurando as canções de orgia de Tieck, que música mais bela que o alarido da saturnal? Quando as nuvens correm negras no céu como um bando de corvos errantes, e alua desmaia como a luz de uma lâmpada sobre a alvura de uma beleza que dorme, que melhor noite que a passado ao reflexo das taças?"

Ocorre o que chamamos flash back. A partir do momento que os jovens começam a contar suas histórias, eles mergulham nas lembranças do passado e o tempo passa a ser psicológico. "Era em Roma. Uma noite a lua ia bela como vai ela no verão por aquele céu morno, o fresco das águas se exalava como um suspiro do leito do Tigre. A noite ia bela".

No decorrer do livro, há uma alternância entre estes dois tempos. Quando uma personagem está contando sua história, ela retorna ao ambiente da taverna, não permanecendo direto no tempo psicológico.

d) Ambiente:

De início, o ambiente é um local comum: uma taverna. Através das conversas entre os jovens boêmios vemos que estes estão em profunda depressão e melancolia, bebendo, fumando. Discutem sobre descrenças religiosas e a imortalidade da alma. Começam então a contar as histórias de amor, assassinatos, violência e morte. Todas estas histórias ocorrem durante um momento de delírio e de muito desabafo. A partir das misteriosas e trágicas histórias o leitor é transportado para um ambiente muito diferente do que está acostumado.

e) Narrador:

O livro inicialmente é narrado em terceira pessoa, onde apresentam os personagens na taverna, depois se torna em primeira pessoa com cada personagem contando suas historias.

Tema - Assunto - Mensagem

Movido pela imaginação exacerbada, o volume apresenta os desvarios do poeta envolvido por uma conturbação febril. É marcada pelo mal do século, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, satanismo e atração pela morte. Visivelmente artificiais, as narrativas desta obra recebem certa dose de magia e coerência por envolver o leitor. E se as histórias relatadas não são verossímeis, pelo menos disfarçam suas incoerências pela atração com que o autor conduz sua imaginação, de modo que quase parecem reais, colocando-as envolvidas por uma onda infindável de orgias deboches, sátiras, paixões transfiguradas, relatadas pela pequena galeria de personagens boêmios que vão tomando a palavra. Das páginas de Noite na Taverna vão surgindo relatos impregnados de um clima inumano e anormal.

Discurso predominante

Tenta-se fugir da realidade na bebida e na fantasia demonstrando estrema melancolia e pessimismo em relação à vida. Percebemos aí uma das características do Ultra-Romantismo (segunda fase): o mal-do-século. Nesta fase os escritores descreviam paisagens sombrias, acontecimentos misteriosos.

A supervalorização do amor é outra característica marcante nesta obra de Álvares de Azevedo. Tendo o amor em primeiro plano. Estão em busca do amor de uma mulher perfeita, que corresponde a todas as expectativas. Destacamos aí a idealização da mulher, como uma figura inalcançável e perfeita em todos os sentidos: pura, alva, sensível, bela (amor espiritual). A conquista da mulher amada é dificultada por vários acontecimentos. Há sempre um obstáculo que impede a personagem de alcançar esse objetivo. Além do amor espiritual, identificamos também no texto o amor físico, onde há um contato entre a personagem e a mulher amada. Apesar disso esse amor não é completo, já que as circunstâncias impedem que fiquem juntos. Esse impedimento causa o descontentamento e a depressão da personagem.

Opinião crítica

A primeira impressão do livro é que seriam tediosos diálogos de bêbados, onde tratariam de assuntos não muito interessantes. O que foi muito diferente, pois se obteve uma fantástica dinâmica entre o ambiente real da taverna e o psicológico narrado pelos jovens, com historias envolventes de suspenses e surpresas que prendem o leitor a um universo totalmente diferente.

Algo muito interessante é o retorno de uma das personagens para o ambiente da taverna, que por sinal é a única mulher que não morreu ainda, ocorre para mostrar ao leitor a veracidade dos contos que antes pareciam não passar de ilusões criadas.

Outro fato que provoca a surpresa é a "volta" de Artur, supostamente morto no duelo com Johann. Ele se salvou do tiro e com o nome de Arnold, se encontra na taverna com Johann, que por estar embriagado não o reconhece.

Apesar de terem histórias que prendem o leitor num suspense, elas acabam passando uma visão de narradores sendo pessoas perigosas, assassinos sem nenhum escrúpulo, pois todas são trágicas, impregnadas de vícios, de crimes hediondos que vão de assassinatos a incestos, de infanticídios e fratricídios, como se os narradores tivessem prazer de contar suas histórias macabras, e o que chama a atenção é que nenhum foi preso ou pego para pagar por seus atos horríveis.

Um ponto positivo e muito bonito da novela e a valorização do amor onde se tem belas declarações e poemas de amor, onde existe grande envolvimento dos personagens. Mas o lado negativo mostra um amor acima de tudo, das regras, conceitos sociais e religiosos, não importando as consequências que esse amor trará, valorizando assim o momento do agora, do prazer. Trazendo assim frustrações, decepções, crimes e amores pervertidos. Com isso trazendo uma desvalorização da vida, podendo assim matar e morrer, pois a vida não faria mais sentido sem a mulher amada.