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Murilo Mendes

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Murilo Monteiro Mendes nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1901. Ainda menino, transferiu-se para Niterói, onde concluiu seus estudos secundários. Em 1953 mudou-se para a Europa, percorrendo vários países; faleceu em Portugal, em 13 de agosto de 1975.

Sua trajetória no Modernismo brasileiro é curiosa: das sátiras e poemas-piadas ao estilo oswaldiano, caminha para uma poesia religiosa, sem perder contato com a realidade social; o próprio poeta afirma que o social não se opõe ao religioso.

Essa convicção lhe permite acompanhar todas as transformações vividas pelo século XX, quer no campo econômico e político - a guerra foi tema de vários de seus poemas -, quer no campo artístico - Murilo Mendes foi o poeta modernista brasileiro que mais se identificou com o Surrealismo europeu.

Já em seu livro de estréia - Poemas ( 1930) - apresentava novas formas de expressão, versos vivíssimos e livre associação de imagens e conceitos, características presentes em toda a sua poética:

"Eu sou o olhar que penetra nas camadas do mundo,
ando debaixo da pele e sacudo os sonhos.
Não desprezo nada que tenha visto,
todas as coisas se gravam pra sempre na minha cachola.
Toco nas flores, nas almas, nos sons, nos movimentos,
destelho as casas penduradas na terra,
tiro o cheiro dos corpos das meninas sonhando.
Desloco as consciências,
a rua estala com os meus passos,
e ando nos quatro cantos da vida.
Consolo o herói vagabundo, glorifico o soldado vencido,
não posso amar ninguém porque sou o amor,
tenho me surpreendido a cumprimentar os gatos
e a pedir desculpas ao mendigo.
Sou o espírito que assiste à Criação
e que bole em todas as almas que encontra.
Múltiplo, desarticulado, longe como o diabo,
nada me fixa nos caminhos do mundo:'

("Cantiga de Malazarte")

A partir de Tempo e eternidade (1935), escrito em parceria com Jorge de Lima, Murilo Mendes passa a cultivar a poesia religiosa, mística, de "restauração da poesia em Cristo". Sua obra ganha em densidade, uma vez que, apesar do dilema entre a Poesia e a Igreja, o finito e o infinito, o material e o espiritual, o poeta não abandona a temática social. Surge daí a consciência do caos, de um mundo esfacelado, de uma civilização decadente, tema constante em sua obra.

A tarefa do poeta é tentar ordenar esse caos, utilizando-se para isso da lógica, da criatividade e do poder de libertação do trabalho poético. São significativos os títulos de suas obras: A poesia em pânico, O visionário, As metamorfoses, Mundo enigma, Poesia liberdade. Deste último livro, cujo tema é a guerra, transcrevemos fragmentos de uma poesia intitulada "Janelas do caos".

"Telefonam embrulhos
Telefonam lamentos
Inúteis encontros
Bocejos e remorsos.

Ah! Quem telefonaria o consolo
0 puro orvalho
E a carruagem de cristal.

(...)

Tu não carregaste pianos
Nem carregaste pedras
Mas na tua alma subsiste
- Ninguém se recorda
E as praias antecedentes ouviram
0 canto dos carregadores de pianos
0 canto dos carregadores de pedras.

(...)
O céu cai das pombas.

(...)

A infância vem da eternidade.
Depois só a morte magnífica
- Destruição da mordaça:
E talvez já a tivesse entrevisto
Quando brincavas com o pião
Ou quando desmontaste o besouro.
Entre duas eternidades
Balançam-se espantosas
Fome de amor e a música:
Rude doçura
- Última passagem livre.

Só vemos o céu pelo avesso."