[Machado de Assi]Considerações gerais Embora com uma história complicada e triste, Helena era o tipo da moça aparentemente tranquila e serena, bela e de fina educação. Eis como a descreve o autor na sua primeira aparição no livro: "Era uma Pressione TAB e depois F para ouvir o conteúdo principal desta tela. Para pular essa leitura pressione TAB e depois F. Para pausar a leitura pressione D (primeira tecla à esquerda do F), para continuar pressione G (primeira tecla à direita do F). Para ir ao menu principal pressione a tecla J e depois F. Pressione F para ouvir essa instrução novamente.
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Helena

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[Machado de Assis]

Considerações gerais

Embora com uma história complicada e triste, Helena era o tipo da moça aparentemente tranquila e serena, bela e de fina educação. Eis como a descreve o autor na sua primeira aparição no livro:

"Era uma moça de dezesseis e dezessete anos, delgada, sem magreza, estrutura um pouco acima da mediana, talhe elegante e atitudes modestas. A face, de um moreno-pêssego, tinha a mesma imperceptível penugem da fruta de que tirava a cor; naquela ocasião tingiam-na uns longes cor-de-rosa, a principio mais rubros, natural efeito do abalo. As linhas puras e severas do rosto, parecia que as traçara a arte religiosa. Se os cabelos castanhos como os olhos, em vez de dispostos em duas grossas tranças lhe caíssem espalhadamente sobre os ombros, e se os próprios olhos alçassem as pupilas ao céu, disséreis um daqueles anjos adolescentes que traziam a Israel as mensagens do Senhor. Não exigira a arte maior correção e harmonia de feições, e a sociedade bem poderia contentar-se com a polidez de maneiras e a gravidade do aspecto. Uma só causa parece menos aprazível ao irmão: eram os olhos, ou antes o olhar, cuja expressão de curiosidade sonsa e suspeitosa reserva foi o único senão que lhe achou, e não era pequeno."

Resumo

Depois de fazer a sesta, o Conselheiro Vale, viúvo rico que morava com o filho Estácio e com a irmã Úrsula, morre de apoplexia. Aberto o testamento, verificou-se que este trazia a revelação de um segredo perturbador: o Conselheiro tinha uma filha ilegítima e determinava que ela fosse retirada do colégio onde estudava para morar com a sua família e participar em igualdade de condições na herança paterna. Assim se fez, embora sob protesto de D. Úrsula e do advogado da família, Dr. Camargo. Helena veio, pois, morar na bela chácara do Andaraí. Cercaram-na de início a indisposição da tia, a desconfiança do irmão e a perplexidade das pessoas amigas da casa. Mas D. Úrsula, que relutava em reconhecê-la sua sobrinha, passou a admirá-la e a querê-la como a um parente. Estácio logo se deixou prender pelos encantos e delicadeza da irmã, e se tornaram de tal modo amigos que, pouco a pouco, esses laços fraternais e esses contatos fizeram nascer, imperceptivelmente, sem que eles desejassem, um sentimento mais forte.

Estabelecido o conflito, ele se acentuou, e teve início a destruição da felicidade perfeita que quase chegou a reinar naquela casa. Estácio, sem o saber, apaixonou-se por Helena, e esta não fugiu à atração que o presumido irmão lhe despertava. Passeavam todos os dias a cavalo pelos arredores, consultavam-se em tudo e se compreendiam muito bem.

Um casamento foi concertado em família para Estácio, com a filha do advogado Camargo. Outro enlace foi combinado para Helena, com Mendonça, amigo de Estácio. Este não se conformou com o noivado da irmã e a ele se opôs tenazmente. Alegando que ela não amava Mendonça, e, segundo lhe tinha confessado certa vez, amava muito a outro homem. Começou, para os dois presumidos irmãos, o clímax do enredo amoroso em que mergulharam. O Padre Melchior, amigo da família, adivinhou o terrível segredo, e um dia o expôs cruamente a Estácio, que ficou muito perturbado. O padre o incitou a extirpar de si aquele pecado medonho, o amor incestuoso. Então descobriu Estácio que Helena, nos seus passeios a cavalo com um pajem, visitava uma casa velha das proximidades e lá se encontrava com um homem de meia-idade, de aspecto pobre, um fracassado da vida. Roído de ciúmes, Estácio reuniu a família para comunicar o crime de Helena. Perplexos, indagam todos que segredos teria ela com aquele homem, o que a levava a com ele encontrar-se às escondidas. Desesperada, a moça confessou que aquele homem da casa velha, pobre, fracassado, infeliz, era o seu verdadeiro pai. Sua mãe o deixara pelo Conselheiro Vale, que lhe dera tranquilidade e uma vida de conforto, embora clandestina. E de tal modo o Conselheiro Vale afeiçoara-se à mãe e à filha que resolvera, como disposição de última vontade, reconhecer Helena como filha e integrá-la a sua família e na sua herança.

Helena e Estácio, pois, não eram irmãos e se podiam amar livremente como pediam seus corações. Mas... e o escândalo que se seguira? E os falatórios, os mexericos, a repercussão social de tal situação? Angustiada por este terrível dilema, Helena adoeceu gravemente. Passou vários dias em estado desesperador e afinal morreu. Estácio, esmagado, gemeu para o padre Melchior.

- Perdi tudo, padre-mestre. [Moraes, Santos, op. cit., pp. 48-51].