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Por que tanta beleza?

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Quando alguns homens estão conversando e uma mulher passa por perto é quase instantânea a interrupção da conversa, por mais calorosa e importante que seja a discussão em tela. As mulheres com seus trejeitos e formas tem o poder de atrair e chamar atenção dos homens, seguindo quase que uma regra entre os mamíferos: a fêmea busca uma estratégia de atrair o macho com a finalidade única de procriar. Dentro de uma situação quase ímpar, os trejeitos da fêmea do Homo sapiens, buscam às vezes a solidez de uma relação social que nem sempre significa acasalar. Mas a gênese dos rebolados, das dissimulações e de outras tantas estratégias está relacionada ao processo de atratividade para o acasalamento. Mas porque tantas estratégias?

Quando somos gerados não passamos de mensagens hereditárias numa embalagem de fácil dispersão. Richard Dawkins coloca em um dos seus livros que “lá fora está ocorrendo uma chuva genética. Uma chuva de genes, pois a árvore está liberando todas as suas sementes…” Mostramos-nos como embalagens sedutoramente perfeitas com a finalidade ímpar de perpetuar a espécie. Esta embalagem é originada de um investimento orgânico intenso, muitas vezes enriquecido pela genialidade humana.

Numa planta, quanto mais doce ou mais colorido o fruto, maior a probabilidade de permitir sua dispersão. Quanto mais colorido o epicarpo, mais carnoso o mesocarpo e mais resistente à ação gástrica o endocarpo, maior será a probabilidade daquela planta alcançar o sucesso reprodutivo. Imaginemos um fruto sem cor atrativa (poucos dispersores se arriscariam a petiscá-lo!) ou que não seja capaz de comunicar o quanto seria delicioso comê-lo (o que desfavoreceria a ação de um faminto dispersor) ou que não apresente o endocarpo suficientemente resistente para que o embrião e suas reservas não sejam digeridos pela intempestiva atividade gástrica: adeus, processo de perpetuação! Adeus, genes da plantinha! Não valeria a pena para planta ter investido tanto numa estrutura de dispersão se esta não fosse eficiente o suficiente para cumprir seu papel biológico em relação à própria espécie: a perpetuação!

Mas voltando as embalagens humanas, podemos refletir que pernas bem torneadas, pele macia, odor marcante e penetrante, cabelos em tonalidade e textura atrativos podem de nada valer se não existir uma estratégia bem arquitetada com a finalidade de “laçar” um par ideal. Aquele “merecedor“ de tais atributos (que hoje em dia, muitas vezes, busca tantos atributos naturais ou artificiais para conseguir intento semelhante) percebe-se envolvido, mas furta-se do real papel deste jogo de sedução (a finalidade principal está no fundo do projeto, mas parece ser o resultado mais equivocado e indesejado possível!), permitindo-se a um encontro fortuito ou simplesmente uma troca de olhares, afagos ou a um simples lampejo de esperança da fêmea esfuziante!

Mas indagamos, pra que tanta beleza? Por que despejar tanta energia num processo às vezes infrutífero? Será que é realmente necessário procurar buscar alterações fenotípicas que possam justificar tais necessidades? Observando a intensidade de ampliação da vida na face da Terra, percebemos que aqueles organismos que apresentam estratégias mais simples de reprodução possuem processos mais eficientes de proliferação de seus genes. Os processos de reprodução assexuada são muito eficientes em números de descendentes produzidos. Entretanto, surge o problema da seleção natural. Gerar cópias idênticas de um mesmo genoma é um “prato cheio” para exclusão motivada por processos de seleção natural. Como escreve Dawkins, “as mutações são geralmente desfavoráveis ou desfavorecidas”. A seleção permite a sobrevivência de quem estiver em perfeita sintonia. A ampliação da diversidade gênica favorece, sobremaneira, à sobrevivência das espécies. Este é o principal argumento da reprodução sexuada. Compartilhar genes em um descendente gera um fortalecimento da perpetuação. A perpetuação não por simples atividade reprodutiva, mas como um mecanismo gerador de matrizes cada vez mais adaptadas para a sobrevivência da espécie, ante as adversidades do meio.

De certa forma é compreensível que fêmeas com tantos pré-requisitos se lancem em busca de um par perfeito: um macho que possa produzir descendentes cada vez mais eficientes ou que possa defender sua prole com a garra de um reprodutor ávido por repassar seus genes para gerações futuras. Genes que possam liderar outros genes. Que possam combater e defender territórios. Esta busca incansável justifica tanta beleza assim! Para conquistar um par perfeito, valem os mais diversos recursos, ainda que, a princípio, pareçam desnecessários.