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Rafinha Bastos: Um Monstro

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“A coisa mais cruel da crueldade é que
desumaniza suas vítimas antes de destruí-las”
(JANINA BAUMAN).

Diz o saber popular que para conhecer uma pessoa basta lhe dá poder. Este poder por ser real: dinheiro, autoridade, ou simbólico: fama, posição que exerça alguma influência no meio social. Assim, é preciso estar atento para embriões encubados na maldade que, logo mais, se revelarão monstros por meio do poder, da fama e do dinheiro. São os ditadores, violentadores sexuais e da dignidade humana etc. O escândalo mais recente do francês Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor do FMI, comprova isso. E ainda tem especialista, categoricamente imbecil, a exemplo do neuropsiquiatra e psicólogo Jean-Michel Oughourlian (2011, p.39) que diz: “Eis o problema de DSK: nasceu no século errado”.

O comediante Rafinha Bastos, que todos os brasileiros o conhece, certamente, é um desses tipos. Acha-se do direito de tirar saro de um povo de um Estado X da federação, dizendo que toda aquela gente é feia. O próprio, de fato, um homem alto e simpático, mas, infelizmente, uma aberração enquanto ser humano. Esse cara é o mais puro produto da essência nazista. Tendo como referência a beleza, e ancorado pela cegueira e pela surdez desta sociedade chega ao extremo da violência na desqualificação da mulher. Para Rafinha Bastos (2011, p.72), as “mulheres feias” vítimas de estupro deveriam ficar satisfeitas com a violência que sofreram: “Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade”.

Essa declaração explicita a perversa discriminação criminosa à mulher não identificada como objeto ideal para o sexo, ou seja, se for considera “feia”, independente de outros predicativos que possua, lhe resta apenas o estupro, e ela tem ainda que agradecer, primeiro, a Deus e, depois, ao agressor pelo favor de ter sido sexualmente molestada. Seu corpo e sua alma terão que pagar pelo descuido da natureza de não tê-la agraciado com o atributo da “beleza”.

Então, nessa perspectiva, somente a mulher bonita deve ser objeto do amor sexual, e a feia servirá, apenas, como objeto para violência sexual. O termo “beleza” está aspado porque é um substantivo bastante relativo. Bonito para um pode não ser para outro e vice-versa. Por exemplo, uma pessoa pode achar a atriz Juliana Paes o máximo, belíssima, outra pode vê-la como horrorosa. Logo, se um tarado catar a filha do Rafinha, poderá, para justificar sua motivação, utilizar o argumento de que a mesma lhe pareceu feia. O Rafinha pai, para fazer jus a sua ideologia deve agradecer os préstimos do senhor estuprador ter torrado (expressão para caracterizar o ato sexual dos mais violentos) sua filha. Não vale questionar se ele tem ou não alguma noção estética, a identificou como feia, e pronto. Até porque a vítima, para o Rafinha não é vítima, é uma beneficiada. Mesmo sendo seu genitor, não tem autoridade para reclamar, não vai ser homem, ou melhor, monstro de duvidar do estuprador que pós em prática seus belos princípios filosóficos tão veementemente por ele defendidos. O Rafinha não irá, de modo algum, contrariá-lo, gosto não se discute. Dizer que sua filha é linda, e que por isso não devia tê-la gratificado, não fará o menor sentido porque foi o critério da friúra que, para os normais, não legitima o crime, é para os Rafinhas da vida o êxtase da generosidade. 

O que também me espanta é que durante todo este tempo não vi nenhuma nota de protesto, de indignação ou revolta diante desse absurdo, nenhuma ONG pro mulher, movimento feminista ou gay, a sociedade em geral, se manifestou. É preciso boicotar todo programa e aparições desse camarada, até que ele peça, publicamente, desculpa as mulheres e aos demais seres humanos, e nos assegure de que irá se submeter a um longo e profundo tratamento psicológico. Do contrário, não pode está perto das mulheres, ele é um perigo para sociedade. Será que ele gosta mesmo de mulher? No seu show, diga se de passagem, ridículo, ele fala o tempo todo em pênis, enche a boca de pênis. Sei não... Afinal, no estupro o peso maior não está no prazer da sexualidade, mas na necessidade perversa de subjugar a mulher. O estupro é a expressão do poder e da raiva (KAPLAN; SADOCK, 1993). O silêncio conivente permite essa violência e autoriza que ela seja praticada contra todos os vulneráveis.

Finalmente, mulheres e homens sensatos deste país, devem reagir a essa monstruosidade, o Rafinha não pode ficar impune. O Brasil se chocou com Wellington Menezes de Oliveira, 24 anos, autor do massacre em Realengo, e silencia com Rafinha, acho que esse dublê de comediante, em termo comparativo, e no campo do simbólico, provoca estrago pior porque tem mais poder. O Wellington Oliveira na sua solidão, torturado pelo bullying, estava totalmente desamparado, ao menos não tinha condições de tratar sua mente doentia. O Rafinha tem. Se não foi feito nada por parte desse sujeito ou da sociedade, cada vez mais o Brasil me dá medo e me enoja. Realmente atesta que somos uma das sociedades mais violentas do mundo, gentinha.

REFERÊNCIAS

BASTOS, R. In: Panorama: Veja essa. Revista Veja, São Paulo, ed. 2217, Ano 44, n. 20, 18 mai. 2011.
KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria: ciências comportamentais – psiquiatria clínica. 6. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1993.
OUGHOURLIAN, J-M. ...era uma vez o rei da França. Revista ALFA, São Paulo, Ed. Abril, ago. 2011.