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Esquizoidia, sociopatia e virtualidade no mundo globalizado

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“A formiga é um pequeno animal bastante sábio no que se refere aos seus interesses, mas nem por isso deixa de ser uma praga para os jardins e as hortas. Igualmente, o homem que ama a si mesmo excessivamente é uma autêntica calamidade pública” (FRANCIS BACON).

O mundo globalizado estende-se entre a esquizoidia e a psicopatia, as neurose e depressão são os espinhos que dão arremate à sua coroação psicopatológica. A neurose predominou na primeira metade do século XX, e o mundo de então se fundava como neurótico e ninguém escapava, todos, de modos e níveis diferentes, eram neuróticos. Uns conseguiam conviver com sua neurose e outros, um pouco mais descompensados, precisavam de ajuda psicológica. Sigmund Freud, apesar de extremante ambicioso no seu projeto de formalizar e expandir a psicanálise como disciplina com um status ainda inexistente, de pastor de almas secular que não teria necessidade de ser médico nem padre (ROUDINESCO, 2005), entretanto, foi bastante modesto no seu objetivo clínico, não tinha pretensão da cura, mas apenas de tornar a neurose administrável.

Atualmente a Depressão tomou corpo, ficou tão obesa de tal forma que Roudinesco (2000, p.41) considera a “sociedade liberal depressiva”. Decerto, “a fragmentação e o isolamento estão na base e continuam sendo os irmãos gêmeos da globalização que se encontra no topo (BAUMAN, 1999), amplamente disseminados por todo tecido social, por conseguinte, se tornam Normoses, ou seja, patologias que, devido à sua alta frequência no cotidiano, se normalizam. Do ponto de vista sistêmico, fala-se em normose quando o que prevalece é o desamor, a falta de escuta, de visão, a injustiça e a corrupção generalizada (CREMA, 2003).

Homem solitário sentado num bancoA atitude “blasé” tipifica a sociedade moderna numa mescla de reserva, frieza e indiferença, sua essência consiste no embotamento da capacidade de discriminação (ILLOUZ, 2011; SIMMEL apud BAUMAN e MAURO, 2016). Para La Rochefoucauld (apud TODOROV, 2014, p.59), “o ser humano é egoísta e solitário...”. O lado egoísta do humano é, sem dúvida, indiscutível, mas a condição de solitário é questionável, uma vez que o tem na conta de gregário. Porém, o contato tête à tête praticamente foi banido do contexto urbano, parece que a realidade se tornou insuportável, e o outro numa constante ameaça ou perigo em potencial (O homem é o lobo do homem - Thomas Hobbes). Para Rousseau (apud TODOROV, 2014, p.33), “o Selvagem vive em si mesmo, o homem sociável [...] sempre vive fora de si, não sabe viver senão segundo a opinião dos outros e é, por assim dizer, apenas do julgamento destes que ele concebe o sentimento de sua própria existência”. Em virtude disso, se instala uma ambivalência, o homem, pelo menos no mundo ocidental, é muito exteriorizado, tem dificuldade de lidar com a solidão e de introspectar, teme e precisa ao mesmo tempo desse Outro como parâmetro. Assim, o encontro se torna improvável, cria-se anteparos, vias de escapes ou fugas para suportar uma convivência, cujas semelhanças e proximidades são sempre assustadoramente negadas. Certamente, isso predispõe a todos aos mais diversos tipos de mal-estares, doenças psicológicas ou psicossomáticas.

Assim, a intenção de um encontro intimista frustra as expectativas porque “´a natureza do homem` é interiormente tão doente ou tão destrutiva que, quando as pessoas se revelarem umas às outras, aquilo que mostram são todos os pequenos horrores privados que em formas menos intensas de experiências são escondidos cuidadosamente” (SENNETT, 2014, p.485). Contrariando o poeta Caetano Veloso, não é que de perto, ninguém seja normal, mas, corroborando com Friedrich W. Nietzsche, humano, demasiadamente humano. O constante embate do indivíduo com o social para legitimar sua singularidade, em determinado momento histórico pode acentuar uma latência mental pouco consistente e estável. Assim, resta o cuidado para que o nível tóxico da sociedade não extrapole os limites, não perca o controle ou expanda o limiar de tolerância às normoses.

Os dados sobre a sanidade mental do mundo é alarmante: “nos Estados Unidos, mais de ¼ da população sofre de doenças mentais; no Japão, cerca de 7%” (BAUMAN, 2013a, p.53-4), e “um quarto da população da UE sofre de doenças mentais que exigem tratamento, enquanto 8% desse segmento (ou 20% da população total) são vítimas de depressão” (DAHLKE, 2009, p.165). Estima-se que 20% da população em idade ativa a qualquer momento de sua vida terá algum tipo de doença mental. Owen e Davidson (apud AFONSO, 2015) defendem a existência de uma doença psiquiátrica originada pelo exercício do poder, a “síndrome da presunção” (Hubris Syndrome), que comporta elementos do narcisismo e da psicopatia. Essa síndrome já não seria epidêmica, uma vez que é instigado o imperativo de que “a chave do sucesso é ´ser você mesmo`”(BAUMAN, 2010, p.53)?.

A depressão que é um quadro mais próximo das neuroses do que das psicoses (KEHL, 2009), ocupará nos países industrializados, até 2020, a segunda causa de morbidade, perdendo apenas para doenças cardíacas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que 20% das mulheres e 10% dos homens já sofreram pelos menos um surto depressivo (DAHLKE, 2009; MARTINEZ apud KEHL, 2009; APPIGNANESI apud BAUMAN, 2011a). Para Badiou (2012), a neurose é um tédio! Já a loucura perturba desde as suas origens. Esse autor se pergunta: o que vem a ser essa forma violenta de engolfamento do sujeito?.

O mundo pós-moderno favorece essa divisão, não é à toa a debandada para Internet, a porta virtual por meio da qual se tem a certeza de escapar de um cotidiano pouco ou nada interessante. Talvez seu atrativo esteja no fato de que nesse espaço todos se encontram devido à certeza de que não estão nesse “lugar”. Excessos de falas e imagens, comunicações que não dizem nada, um dissimulador para solidão de que estão conectados. A internet é o espaço do vazio e da exposição que contempla o exercício dessa fragmentação que, por ser uma demanda coletiva, o indivíduo não se sente “anormal”, do contrário, assume a aura de moderno e a sensação de pertencer a uma tribo global (SILVA, 2010). Enfim, as comunidades virtuais podem ser engraçadas, mas criam apenas uma ilusão de intimidade e um simulacro de comunidade (HANDY apud BAUMAN, 2005).

Na verdade, “ninguém mais sabe falar com ninguém” (ZUKIN apud BAUMAN, 2001, p.124), e a Internet alimenta o pensamento rápido que fornece a “fast food” intelectual (BOURDIEU, 1997). Assim, “os adultos se baseiam exclusivamente na razão instrumental e não têm mais a capacidade de pensar criticamente”(MAZZEO, 2013, p.26), a civilização parou de se questionar (CASTORIADIS apud BAUMAN, 2000). Logo, surfar supera amplamente os conceitos cada vez mais obsoletos de indagar e aprofundar (BAUMAN, 2010). Em vista disso, os adolescentes estão perdendo importantes sinais sociais porque estão o tempo todo muito concentrados em seus iPods, celulares e videogames, e continuam na sala de aula, não conseguem cumprimentar nem estabelecer contato visual (BALDO apud BAUMAN, 2010).

O tempo médio de uso da internet é de 4 a 10 horas durante a semana, e aumenta para 10 a 14 horas nos finais de semana (YOUNG e RODGERS apud ABREU et al., 2008), “muitos estudantes universitários admitem ser ´viciados` no Facebook e deixam a página permanentemente aberta em seus computadores”(SONG apud BAUMAN, 2011a, p. 69). Sem dúvida, o virtual é uma dimensão muito importante da realidade, e suscita fascínio (LÉVY, 2005), que, por sua vez, causa dependência, absorve o tempo real e atravessa as interações sociais. Haverá uma saturação da “navegação” virtual ou a indústria cuidará de emitir novidades para manter populações cativas? Mas, as inovações tecnológicas, em especial as ligadas à informativa, não podem ser julgadas positivas ou negativas, tudo vai depender da forma como for sua articulação como agenciamentos coletivos de enunciação (GUATTARI, 2000).

Paradoxalmente, um indivíduo humano não é mais capaz de moldar a si mesmo, agora é moldado pela globalização e suas forças anônimas (DONSKIS, 2014). Num contexto marcado pelo anonimato e esquizoidia social, a busca do virtual pulsa como uma necessidade de não se reduzir ao “mínimo eu” (LASCH, 1987), de não desaparecer neste deserto afetivo, assim, se expõe a todo e qualquer custo “na vitrine do mundo do espetáculo” (DEBORD, 1997), no qual se prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser (FEUERBACH apud DEBORD, 1997). Segundo Bauman (2014, p.71), “vivemos numa sociedade confessional, promovendo a autoexposição pública ao posto de principal e mais disponível das provas de existência social, assim como a mais possante e a única eficiente”. Ainda para esse autor, “milhões de usuários do Facebook competem para revelar e tornar públicos os aspectos mais íntimos e inacessíveis de sua identidade, conexões sociais, pensamentos, sentimentos e atividades” (p.71).

Nessa perspectiva, Tellier (apud BAUMAN, 2012, p. 45) diz: “Tenho um Facebook móvel: centenas de amigos que não conheço me conectam para contar coisas que não me interessam, as quais fazem em suas vidas, a respeito das quais nada sei”. Trata-se do “homem efêmero” que, com orgulho, a todo instante posta no Face sua efemeridade, ao estilo: Acordei! Como se a humanidade visse nesse acordar um fato relevante. Porque viver hoje é ser visto. Se eu não fotografar o que eu como, se não falar onde eu fui, se eu não tirar fotos, se eu não fizer tudo isso não fui, ver é viver (KARMAL, 2015). Numa compreensão mais psicológica denominaria esse fenômeno de “Síndrome de Celebridade”.

Na visão de Melucci (apud BAUMAN, 2014, p. 54), “somos atormentados pela fragilidade da condição presente, que exige um alicerce sólido onde não existe nenhum esteio”, ou seja, no Unsicherheit - incerteza, insegurança e falta de garantia (BAUMAN, 2000). Porém, a internet não nos rouba a humanidade, é um reflexo dela, não entra em nós, mostra o que ela contém (ROSE apud BAUMAN, 2013b), isto é, de que “nenhuma vitória sobre a desumanidade parece ter tornado o mundo mais seguro para a humanidade” (BAUMAN, 2011b, p.247). O contexto atual precipita ao hedonismo para tamponar a angústia do existir por meio do consumo, do sexo promíscuo, da pornografia, das drogas lícitas e não autorizadas, do mergulho no mundo virtual. Assim, se constata que “a sociedade contemporânea está repleta de substitutos do gozo. Os pequenos pedaços de gozo dão o tom de um estilo de vida e de um modo de gozar” (MILLER apud ŽIŽEK, 2013, p.85).

A partir da indiferença do social se instituiu o imperativo do EU, acima de tudo, narcísico e autossuficiente. Todavia, esse amor não é um amor do self (a si mesmo), pois, com a fachada a pessoa rejeitou o verdadeiro self como inaceitável (LOWEN, 1993). Para Bauman (2015, p.58), as “bugigangas eletrônicas não se limitaram a fornecer amor. Elas são projetadas para serem amadas, da mesma maneira como isso é proposto a todos os demais objetos de amor...”. Esse autor acrescenta que “à diferença do caso das bugigangas eletrônicas, contudo, o amor de um ser humano por um ser humano significa compromisso, aceitação de riscos, presteza para o autossacrifício...”(p.58). Esse fetiche tecnológico “é político”, o contraditório é que a tecnologia que age em nosso lugar nos habilita a permanecer politicamente passivos. Não temos de assumir a responsabilidade política, porque faz isso por nós (DEAN apud BAUMAN, 2014).

Na concepção de Winnicott (1988), o falso self resulta da sensação de irrealidade e sentimento de futilidade, quando bem sucedido oculta o self verdadeiro. Assim, devido a essa condição social movediça, se lança um olhar e sentimentos de desconfiança e de estrangeiramento (outsider) sobre entorno. Por conseguinte, cria-se uma blindagem emocional para lidar e se defender do Outro ameaçador, perigoso, tornando mais latente ou camuflado o self verdadeiro voltado para as expressões autênticas.

Haja vista a pressão para provar que existe e de pensar só em si mesmo, por vezes, se negligencia os valores éticos ou os invertem num cinismo em que “ser é ser visto na TV” (BERKELEY apud BAUMAN, 2000, p.110), em qualquer telinha, mas visando um circuito mais amplo de divulgação. Afinal, celebridade é alguém conhecido por sua característica de ser muito conhecido (BOORSTIN apud BAUMAN, 2007). Mas, uma pessoa má não é egoísta, pois, “um verdadeiro egoísta passa tempo demais cuidando de seu próprio bem para ter tempo pra causar o infortúnio de outros” (ŽIŽEK 2014, p.81). Porém, “o autoconhecimento sem participação do outro produz monstros da razão e da imaginação. Conhecer o outro ao mesmo tempo em que se tenta manter-se desconhecido e invisível destrói a solidariedade humana” (DONSKIS, 2014, p.254). Enfim, “perder o outro em si é esvaziar nosso mundo interno e se submeter ao imediato” (CYRULNIK, 2009, p.125).

Esse investimento maciço no Eu, desenvolve uma sociedade de bárbaros, que são aqueles que negam a plena humanidade dos outros, comportam-se como se os outros não fossem inteiramente humanos (TODOROV 2010). Em razão disso, “o bárbaro não está mais às portas, ultrapassou os muros, está em cada um de nós” (MAFFES0LI, 2008, p.11), “não há dúvida de que cada um de nós é capaz, potencialmente, de se tornar um monstro (LEVI apud BAUMAN, 2008, p.90), “todas as experiências nos provam que ninguém está definitivamente civilizado: um pequeno-burguês pacífico pode torna-se, em certas condições, um S.S. ou um carrasco...” (MORIN, 2011, p.112). Contudo, “sempre é possível escolher ser humano, sempre é possível escolher ser moral. Nessa escolha está nossa dignidade humana” (BAUMAN, 2011c, p.21).

Para Guattari (2000, p.100), “a psicose habita assim não apenas a neurose e a perversão mas também todas as formas de normalidade”, “em certo nível mais elementar, somos todos psicóticos” (LACAN apud ŽIŽEK, 2016, p.11). Mas o psicótico não está inserido no processo produtivo, ignora o mundo capitalista por ter encontrado o seu próprio universo ricamente habitado por seus delírios, alucinações e fantasias, e o vivencia como real. Diferente do neurótico não tem nenhum compromisso de corresponder a qualquer demanda social. É o neurótico que sustenta o sistema produtivo, obedece e sofre para atender às normas estabelecidas. Todavia, um louco, por mais louco que seja, sabe que se pular do quinto andar, estará morto. A realidade da qual não quer saber nada, é a realidade social, as relações de filiação, relação aos objetos de desejo (CASTORIADIS, 1999).

Na modernidade, “o mal não precisa mais de pessoas más. As pessoas racionais, homens e mulheres bem afixados na rede impessoal, adiaforizada, da organização moderna, podem fazê-lo perfeitamente” (BAUMAN, 2011b, p.266). Entretanto, na prática, devemos agir como humanista, respeitando e tratando os outros como pessoas livres e plenas de dignidade. Mas, uma ética não teme levar em conta a monstruosidade latente do ser humano, a sua dimensão diabólica que, por vezes, explode em fenômenos violentamente extravagantes (ŽIŽEK, 2011).

O contexto pós-moderno fomenta o caráter sociopático, tomado pelo desejo fixo, compulsivo e, por vezes, até megalomaníaco, de sucesso. Para isso, o sujeito da sociopatia usa da sedução pessoal, e é capaz de pulverizar ou esmagar sem escrúpulo todo e qualquer estímulo que se interponha à plenitude dos seus desejos. Sua tirania é o senhor absoluto da manipulação, cuja empatia pelo outro serve apenas para retirar o que lhe gratifica, bens materiais e poder estão no pódio da sua razão de viver/vencer.

A Europa e os Estados Unidos gastam US$ 17 bilhões por ano com comida para animais, segundo especialistas, 19 seriam suficientes para matar a fome da população mundial (BAUMAN, 2013a). Isso é sintomático, outra fuga, compensação ou desvio de afeto dedicado a animal, porque seu retorno é garantido, enquanto que, o humano, pelas dificuldades e incertezas que lhe são inerentes, passa a ser preterido. Mas o que fazer neste mundo dividido entre esquizóides e sociopatas? De certo, “a humanidade ainda é imatura e bárbara, ela ainda não alcançou a sabedoria plena”(ŽIŽEK, 2013, p.99), “não, percebemos que nunca entramos na era moderna”(LATOUR, 2005, p.51). Graham e Marvin (apud BAUMAN, 2009), destacam que pessoas fisicamente vizinhas, mas social e economicamente estão muitos distantes.

Para Butler (apud SAFATLE, 2015, p.75) “somos movidos por aquilo que está fora de nós, por outros, mas também por algo ´fora` que reside em nós”. Ou seja, tem-se a ilusão de que com essa divisão que se materializa em murros altos, cerca elétrica e circuito interno de tv estão protegidos, mas isso nem sempre impede de que ambos afetem e sejam afetados. Em meados da década de 90, ridicularizando a lealdade e as estruturas que não mais são capazes de conter as diversidades, circulou um cartaz em Berlim que dizia: “Seu Cristo é judeu. Seu carro é japonês. Sua pizza é italiana. Sua democracia, grega. Seu café, brasileiro. Seu feriado, turco. Seus algarismos, arábicos. Suas letras, latinas. Só o seu vizinho é estrangeiro” (MAMZER apud BAUMAN, 2005, p.33).

Finalmente, “quando a solidariedade é substituída pela competição, os indivíduos se sentem abandonados a si mesmos, entregues a seus próprios recursos - escassos e claramente inadequados” (BAUMAN, 2009, p.21). Para La Rochefoucauld (apud TODOROV, 2014), é preciso encorajar o ser humano a se tornar social e generoso. O senso de solidariedade humana é produto da socialização, criada pela reflexão e aumento da sensibilidade a dor e a humilhação aos tipos pouco familiares. Pois, fazemos esforços intermináveis para ajudar um amigo e somos inteiramente alheios ao sofrimento maior de quem não conhecemos (RORTY, 2007).

Desenvolver a solidariedade é, além da disponibilidade humana para com o Outro, um ato de inteligência para o equilíbrio do planeta. Um olhar “mata pela despreocupação” ou, de forma mais eficaz, “mata pela indiferença” (LEVI apud BAUMAN, 2012, p.106). Mas, civilizado, segundo Todorov (2010, p.32), “é quem sabe reconhecer plenamente a humanidade dos outros”.

Referências

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