A psicologia tem uma tremenda dificuldade de se autocriticar - como se não tivesse furos ou se isso fosse depreciativo ao invés de melhorá-la - e d... Pressione TAB e depois F para ouvir o conteúdo principal desta tela. Para pular essa leitura pressione TAB e depois F. Para pausar a leitura pressione D (primeira tecla à esquerda do F), para continuar pressione G (primeira tecla à direita do F). Para ir ao menu principal pressione a tecla J e depois F. Pressione F para ouvir essa instrução novamente.
Título do artigo:

A Psicologia em risco: Réquiem para Freud

95

por:

“Depois de superar o imenso ódio e ambivalência [...],
o paciente aprende a linguagem do analista e pari passu introjeta a imagem idealizada do analista”
(Michael Balint).

A psicologia nunca teve identidade própria, sempre se pautou na sombra da medicina, no modelo médico para se fazer respeitada, não é à toa que, tenha tido ou não vestibular de medicina como opção, profissional de psicologia adora jaleco branco, parece suscitar um poder arquetípico de transformá-lo em autêntico agente da saúde. A psicologia tem uma tremenda dificuldade de se autocriticar - como se não tivesse furos ou se isso fosse depreciativo ao invés de melhorá-la - e de aceitar sua alma: a subjetividade, e à medida que procura se firmar com parâmetros objetivos, cada vez mais se distancia do delineamento do seu perfil de ciência da alma.

A psicologia sugere uma disposição, quase que inata, para acatar um segundo lugar em relação à poderosa medicina cujo status a faz uma auxiliar subalterna ou passiva. A psicologia ainda é discriminada por outras disciplinas, médicos que a toleram, geralmente são aqueles que têm esposa ou filha psicóloga etc.

As ciências sociais não são verdades absolutas, mas apenas descrições coerentes e verossimilhantes. A pesquisa em psicologia também assume a aura de certeza absoluta, como se não existisse uma tendência ou ideologia por trás da ciência, como se, pelo fato de ser científico, significasse imparcialidade e exatidão. A neutralidade axiológica é uma utopia, mas deve ser perseguida para não cair no abismo do achismo ou das pseudas hipóteses. A ciência, na verdade, é ideológica, machista e fálica.

Foto: shutterstockMas hoje, devido à necessidade de psicólogos lidarem com o palpável, sedentos em abraçá-lo como tábua de salvação para se mostrarem mais consistentes, assertivos, respeitados e legitimados na profissão, a psicologia corre o risco de desfigurar sua identidade ainda não tão bem definida. A psicologia navega a favor da corrente da subjetividade, essa é a sua praia, assim, ao invés de se amparar em outras ciências, devia explorar, aprofundar, tornar mais visível e compreensível à sua subjetivação. O tesão da psicologia está, exatamente, nessa coisa que se tenta e nunca se dar conta, e por isso mesmo sua eterna busca, não fecha, uma gestalt permanentemente aberta como uma análise interminável, diferente da medicina que explícita e encerra, com algumas exceções, seus conhecimentos em manuais.

Na realidade, todos nós, em níveis diferentes, somos, no mínimo, neuróticos (produtivos), não existe ninguém totalmente normal e feliz. A sociedade é uma construção em processo, confusa, inacabada, tóxica e neurotizante, sua prioridade é a produção em detrimento da qualidade de vida e da saúde mental. Portanto, a maioria das sociedades não consiste em nenhum modelo razoável de equilíbrio e sanidade.

Mas, para o senso comum psicólogo trata de louco, e o próprio é dito como louco, em vista disso, é que sabe cuidar do seu igual: o louco. Entretanto, a psicologia não tem um arsenal teórico que dê conta da loucura, apenas faz ranhuras nos paredões da insanidade, esbarra nessa impossibilidade e reafirma esse interdito diante da complexidade das doenças mentais que zombam da sua cara. A psicologia devia investir na loucura e, assim, confirmar sua circulante fama de que é uma especialidade de e para maluco. Seria um privilégio restituir o psicótico (improdutivo) à sociedade normótica, mas a função do psicólogo, em grande parte, se reduz em dá apoio a neuróticos descompensados, a ajudá-los a administrar ou a suportar sua angústia e sofrimento psíquico, nada de cura, essa pode ser uma consequência, nunca a causa do trabalho psicoterápico.

Se a psicologia não compreender e não valorizar o emocional, corre sério risco de não se repaginar. Embora os laboratórios farmacêuticos faturem horrores, não existe nenhum medicamento que dê conta das demandas emocionais, apenas engessam, camuflam, mas não transmuta o núcleo das perturbações, não resolvem, por vezes cria outro problema que é a dependência química.

Enfim, ao invés de mergulhar nas profundezas do universo subjetivo e sofisticar seu principal instrumento de trabalho que é a subjetividade, a psicologia anda doida para se ancorar em ferramentas na perspectiva das exatas. Não dá mais para acreditar na imortalidade freudiana, quase não se ouve mais dizer que Freud explica! Certamente Freud explica essa busca da psicologia por parâmetros concretos, e como explica!!!.