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Revoluções Burguesas no século XVIII, As

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As revoluções Burguesas são um momento significativo na história do capitalismo, na medida em que serão elas que contribuirão para abrir caminho para a superação dos resquícios feudais e, portanto, para tornar possível a consolidação do modo de produção capitalista. Tais revoluções ocorreram em vários países europeus, no entanto, neste capítulo, vai-se dar ênfase especial a duas delas: a Revolução Inglesa, ocorrida no século XVII, e a Revolução Francesa, no final do século XVIII.

Para se compreender a Revolução que ocorreu na Inglaterra, é necessário compreender o quadro social lá existente, além das questões políticas e econômicas derivadas de uma sociedade onde as forças capitalistas avançavam com rapidez, mas esbarravam numa estrutura ainda eminentemente feudal. Nesse sentido, devido à crise que ocorreu no século XVII, na Europa, e em razão do avanço dessas forças capitalistas, a Inglaterra pôde conhecer uma revolução, que boa parte dos autores considera burguesa, pelos efeitos sobre a estrutura econômica inglesa.

As razões que propiciaram a eclosão do movimento revolucionário, sumariamente são:

a) o Estado absolutista inglês (desde 1603 o governo estava nas mãos da dinastia Stuart) era, apesar disso, tremendamente frágil: não possuía exército permanente nem uma burocracia organizada, além de possuir rendimentos financeiros pouco expressivos; as tentativas dos reis Jaime I e Carlos I em aumentarem os impostos e terem um exército à sua disposição, eram vistas com desconfiança pelo Parlamento;

b) as condições econômicas da Inglaterra, devido ao período mercantilista. Sob o governo da dinastia Tudor (1485-1603), a Inglaterra tornou-se uma grande potência marítima. Foi também neste período que o sistema de "putting-out" ou indústria doméstica surgiu, determinando mudanças na estrutura da produção;

c) a Reforma religiosa na Inglaterra determinou a perda das terras da Igreja, que foram tomadas pelo Estado e vendidas para a burguesia e para a nova nobreza (gentry) que estavam preocupadas com o cercamento das terras para a criação de ovelhas, cuja lã atendia às manufaturas. Assim, passou a haver uma estreita associação de interesses entre a burguesia mercantil e a gentry;

d) as transformações na estrutura social, derivadas das transformações econômicas citadas acima. A diferenciação social entre cidade e campo era bastante nítida. No campo estavam os Pares (aristocracia, ou alta nobreza, essencialmente feudal); a gentry (nobreza de status); os yeomen (pequenos e médios proprietários rurais); os arrendatários e os jornaleiros. Havia ainda, nas cidades, os elementos ligados 1as corporações de ofícios.

A Revolução Inglesa tem início no governo de Carlos I (1625-1640), devido às tentativas desse rei em aumentar os impostos. Em 1637 ele lançou o "ship money", e a população se rebelou. Paralelamente, a monarquia procurava restringir os cercamentos, afastar a gentry da Corte e reforçar os privilégios dos Pares. Os protestos do Parlamento levaram Carlos I a dissolvê-lo, convocando um outro, que ficou conhecido como Short Parliement (Parlamento Curto), logo dissolvido por se recusar a permitir novos impostos. O parlamento convocado logo a seguir, conhecido como Long Parliament (Parlamento Longo), toma atitudes drásticas: depõe o primeiro-ministro, revoga os impostos que o rei havia decretado e estabelece que apenas o Parlamento poderia se autodissolver; o rei não poderia mais tomar tal atitude.

Em 1640, para vencer os irlandeses, o rei organiza um exército próprio, que será levado a lutar contra o Parlamento. Tem início a Revolução, que passa pelas seguintes etapas:

a) 1640-42 - a Grande Rebelião. O Longo Parlamento toma atitudes (como as citadas acima) francamente hostis ao monarca.

b) 1642-48 - a Guerra Civil. Do lado do rei alinham-se anglicanos e católicos, portanto, essencialmente os Pares e alguns setores da gentry, principalmente os das regiões Norte e Oeste da Inglaterra; aolado do Parlamento encontramos presbiterianos e seitas radicais; os yeomen, a burguesia mercantil e setores dda gentry, especialmente os do Sul e do Leste da Inglaterra. A vitória do Parlamento só se tornou possível pela organização do New Model Army (Novo exército modelo), de Cromwell. Foi graças a esse exército, onde a promoção ao oficialato se fazia pelo mérito, que o Parlamento conseguiu vencer as tropas reais. Após a prisão do rei, surgiram conflitos entre os vencedores, pois alguns defendiam a condenação à morte do rei (radicais), enquanto os moderados insistiam na continuação da monarquia. Os radicais conseguiram se impor e Carlos I foi condenado.

c) 1648-58 - a República de Cromwell. Oliver Cromwell esmagou violentamente os movimentos radicais dentro do exército (niveladores e cavadores, cujas ideias serão examinadas no texto de aprofundamento); decretou os Atos de Navegação que consolidaram a marinha inglesa e permitiram, em breve, à Inglaterra dominar os mercados mundiais; seu governo era uma república ditatorial, denominada Protetorado.

d) 1658-60 - o fim da da República.Após a morte de Cromwell, seu filho Richard foi deposto pelo exército, num golpe tramado pelo Parlamento. Optou-se pela restauração da dinastia Stuart.

e) 1660-88 - a restauração Stuart.O Parlamento é depurado dos elementos radicais. Tenta-se a monarquia limitada, mas quando Jaime II tenta restaurar o absolutismo e o catolicismo a situação chega ao limite.

f) 1688-89 - a Revolução Gloriosa. Esta "revolução" nada mais foi do que um golpe do Parlamento contra Jaime II. Colocando no poder Guilherme de Orange, um genro de Jaime II, a gentry e a burguesia, na realidade, estão assumindo o poder, uma vez que pelo "Bill of Rights" (Declaração de Direitos), de 1689, fica definitivamente limitado o poder monárquico na Inglaterra, caminhando-se, portanto, para a instalação do Parlamentarismo.

Por esta breve síntese, pode-se perceber por que a Revolução Inglesa é considerada uma revolução burguesa. Foi ela, na realidade, que abriu as condições para a instauração do modo de produção capitalista, via Revolução Industrial, na medida em que estabeleceu a plena prosperidade privada sobre a terra, permitiu à marinha inglesa controle sobre os mercados mundiais e, ao intensificar os cercamentos, proletarizou uma grande massa de pessoas.