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Neorrealismo italiano

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O Neorrealismo italiano surge como um reflexo cultural da situação em que a Itália se encontrava no final da ocupação nazi. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e do fascismo, houve uma grande mudança nas condições sociais, económicas e psicológicas da população e era impossível para uma sociedade em crise, com alto índice de desemprego, estrutura política desintegrada e a economia totalmente enfraquecida, manter – tanto economica quanto psicologicamente – a ilusão apresentada pelo cinema fascista, o cinema do telefone branco.

Os diretores da época acreditavam que a poética do cinema estava na realidade do quotidiano, que os filmes produzidos deveriam apresentar a realidade sem interferências – o que é um paradoxo, já que o cinema sempre transmite uma ideologia, mesmo quando pretende fazer o contrário, pois a montagem, os planos, os ângulos da câmara, por mais neutros que sejam, não conseguem transmitir fielmente o olhar do espectador – e que o cinema iria “revelar e compelir os espectadores a se envolverem com as questões sociais e éticas exploradas”.

Justamente por causa da crise vivenciada naquele momento é que o Neorrealismo italiano surge como um estilo antagônico ao cinema em vigor, tanto tecnicamente quando esteticamente.

Em seus aspetos técnicos, o cinema Neorrealista italiano é caracterizado pelo uso frequente de atores não-profissionais, filmagens fora do estúdio, aproveitamento de restos de filmes e pedaços de rolos, e pouco uso de artifícios de edição como iluminação artificial e construção de cenários, não só pela falta de recursos para a utilização de tais ferramentas como também pela busca da simplicidade e com o intuito rebelde e revolucionário de quebra dos paradigmas vigentes. As filmagens feitas nas ruas também causaram a produção de filmes parcialmente mudos com adição posterior de som, pois, devido à qualidade das filmagens fora do estúdio, os sons diegéticos e até os diálogos de certas cenas precisavam ser refeitos posteriormente.

A estética Neorrealista é a do documentário. Os realizadores prezavam pela autenticidade dos trabalhos (por isso a preferência por não-atores), pois seus objetivos eram representar o quotidiano da classe desfavorecida italiana. Os argumentos ficcionais desses filmes nada mais eram que documentários da Itália apresentados sob a ótica de uma situação factível que qualquer cidadão italiano poderia enfrentar. Esse aspeto documental é facilmente percetível em filmes como “ Viajem a Itália” de Rosselini, em que se alternam cenas do drama vivido pelo casal protagonista e apresentações – inclusive com explicações de cunho científico ou turístico – de vários pontos importantes de Nápoles; ou em “Ladrões de Bicicletas” de Vittorio De Sica, que mostra a realidade do desemprego, da criminalidade, da Igreja e das crenças populares, durante a busca de António pela sua bicicleta roubada.

Capa do Filme Roma, Citta ApertaO cinema Neorrealista também é caracterizado pelo uso de uma estrutura narrativa não ortodoxa que evita as convenções clássicas de continuidade do sistema capitalista do cinema italiano anterior – e de Hollywood, como o maior exemplo da época e da atualidade –, que buscava a criação de grandes espetáculos com o objetivo de maior arrecadação de renda. Desta forma, os argumentos não apresentam ligações ou explicações dramáticas para os eventos que ocorrem, pois não há a presença de uma linearidade ou de um desenvolvimento detalhado dos personagens, cujas atuações não são “exageradas” e cujas ações não são precedidas de motivações ou causas psicológicas bem definidas. Essa característica foi muito bem absorvida e desenvolvida pelos cineastas franceses da Nouvelle Vague posteriormente.

O Neorrealismo italiano durou cerca de uma década (de 1943 a 1953), e seus principais expoentes foram os cineastas Roberto Rosselini, com filmes como Roma, città aperta, Paisà (Roma Cidade Aberta) eViaggio in Italia (Viajem a Itália), Luchino Visconti, com Ossessione (Obsessão), que inicia o movimento, e La Terra Trema (A Terra Treme), Vittorio De Sica e o argumentista Cesare Zavattini, comSciuscià e o aclamado Ladri di Biciclette (Ladrões de bicicletas).



Originalmente publicado em http://aprendercinema8e9.blogspot.com.br/2012/01/neorrealismo-italiano.html