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Colocação Pronominal

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O uso dos pronomes oblíquos átonos ME, TE, SE, O(S), A(S), LHE(S) e NOS em relação ao verbo é bastante livre no Brasil: depende muito do ritmo, da harmonia, da ênfase e principalmente da eufonia. Como a pronúncia brasileira é diferente da portuguesa, a colocação pronominal neste lado do Atlântico também difere da de Portugal. O português brasileiro é essencialmente proclítico, isto é, preferimos usar o pronome na frente do verbo na maior parte do tempo. Tudo poderia se resumir à próclise, então. Mas não é assim tão simples. Há algumas orientações e regras a serem seguidas.

Próclise ou ênclise - O pronome pode ficar antes ou depois do verbo quando houver:

1) sujeito explícito antes do verbo:

  • Ele se manteve / manteve-se irredutível em relação ao divórcio.
  • William Golding se consagrou/consagrou-se como um mestre em esmiuçar questões complexas da natureza humana.
  • Desde os dois anos de idade Laís se veste /veste-se sozinha.
  • Humilhar  o vizinho se tornou/tornou-se uma obsessão para Joel.
  • Por muito tempo aquelas pessoas se debateram/debateram-se com o alcoolismo.

2) conjunção coordenativa:

  • Gostei da festa, porém me despedi/despedi-me cedo.
  • Tem rompantes, mas se arrepende/arrepende-se depois.
  • O governador foi taxativo e se estendeu/estendeu-se longamente sobre o assunto.


3) preposição antes de verbo no infinitivo:

  • Nas lojas esportivas encontramos o equipamento ideal para proporcionar-nos/para nos proporcionar uma vida sadia.
  • Temos satisfação em lhe participar / em participar-lhe a inauguração da fábrica.
  • Tenho o prazer de lhes falar/falar-lhes sobre a filosofia que norteia nossa instituição.


Obs. Quando o pronome é a/as, o/os, torna-se preferível a ênclise: Conseguido o divórcio, sentiu-se tentada a enganá-lo (em vez de a o enganar) na divisão dos bens. / Tenho o prazer de convidá-los a comparecer ao batismo. / Folgo por sabê-los bem.

Recomendações

Para muitos, trata-se de regras rígidas, mais do que recomendações. Digamos que quem quer redigir com correção e estilo deve cuidar para adotar a próclise nas seguintes situações:

1) Os pronomes indefinidos e relativos e as conjunções subordinativas atraem o pronome átono; para facilitar seu reconhecimento, convém notar que grande parte começa com qu:

Eis o livro do qual se falou a noite inteira.
Procuramos quem se interesse por criação de bicho-da-seda.
Quer me arrependa, quer não, irei lá.
O resultado das urnas serviu para mostrar a falácia daqueles que se jactavam de uma força política que lhes permitia tudo.
Sua carreira política começou em 1955, quando se elegeu vereador pelo antigo PTB.
Em sociedade tudo se sabe. / Onde se meteram eles?

2) Também as palavras de valor negativo atraem o pronome átono:

Nada nos afeta tanto quanto o aumento do leite. / Nunca se viu coisa igual.
Não me diga isso para não me aborrecer. / Ninguém os tolera.
Jamais se soube a verdadeira versão dos fatos.

É interessante observar que se a palavra negativa precede um infinitivo não flexionado, o pronome pode vir depois do verbo: Calei para não a magoar.  Calei para não magoá-la. / Saí para não os incomodar/para não incomodá-los.

3) Advérbios de um modo geral atraem o pronome átono:

Aqui se faz, aqui se paga. / Agora te reconheço. / Sempre se disse isso.
se foi nosso dinheiro... / Talvez nos encontremos. / Devagar se vai ao longe.
Ele certamente a viu. / Muito nos contaram sobre isso. / Logo se saberá o resultado.

Dissemos, na semana passada, que a língua portuguesa no Brasil é proclítica. Tanto é assim que o Manual Geral de Redação da Folha de S. Paulo resume sua orientação alertando para esse ponto: “Atualmente o pronome é colocado antes do verbo haja ou não uma palavra que o atraia (pronome relativo, negações etc.). Mas em pelo menos um caso usa-se o pronome depois do verbo: início de oração”.

proibições - Há apenas duas situações inviáveis:

1) a ênclise com os tempos futuros; em outros termos: colocar o pronome átono depois dos verbos no futuro do presente e do pretérito do indicativo e no futuro do subjuntivo:

fazerei-me / faria-nos / diriam-se / se disser-te / quando puse-las / se trouxe-las etc.

2) o pronome átono depois do particípio: Eu já teria aposentado-me se ganhasse bem.

Se aplicar a orientação de sempre usar o pronome na frente do verbo, você já não corre o risco de cometer esse erro de ênclise. Como corrigir essas situações, então? Usar a próclise colocando um sujeito explícito antes do verbo, para não deixar o pronome no início da frase:

  • Eu me benzerei; ele nos faria um favor; se te disser; quando (eu) as puser no lugar; eles se diriam magoados. Ficarei feliz se (você) as trouxer junto.
  • Eu já teria me aposentado se ganhasse bem.

Começo de frase

Ainda não aceita na linguagem culta formal, a colocação do pronome átono em início de frase é permitida na linguagem informal e nos diálogos - pode ser “proibida”, mas não é inviável, portanto. Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo (1985: 307), observam que essa possibilidade – especialmente com a forma me – é característica do português do Brasil e também do português falado nas repúblicas africanas. E citam exemplos de Erico Veríssimo e Luandino Vieira, respectivamente: Me desculpe se falei demais. / Me arrepio todo...

E já escrevia Mário de Andrade, em “Turista Aprendiz”: Se sente que o dia vai sair por detrás do mato. Em todo caso, deve-se evitar o uso do pronome “se” no começo da frase porque ele pode induzir o leitor a pensar que se trata da conjunção condicional se.

Locução verbal

Relembrando: locução verbal é a reunião de dois ou mais verbos para exprimir uma só ação. O primeiro verbo é chamado auxiliar; o último é o principal e está sempre no infinitivo, no gerúndio ou no particípio. Para melhor visualização e fixação, vejamos as possibilidades de colocação dos pronomes átonos por meio de exemplos apenas.

1) Auxiliar + Infinitivo

Quero fazer-lhe uma surpresa.
Quero-lhe fazer uma surpresa.
Quero lhe fazer uma surpresa. [sem hífen é mais brasileiro]
Eu lhe quero fazer uma surpresa.


2) Auxiliar + Infinitivo com preposição

Começamos a nos preparar para o vestibular.
Começamos a preparar-nos para o vestibular.

3) Auxiliar + Gerúndio

Eles foram afastando-se.
Eles foram-se afastando.
Eles foram se afastando. [colocação brasileira]
Eles se foram afastando.

4) Auxiliar + Particípio

O povo havia-se retirado quando chegamos.
O povo havia se retirado quando chegamos.
O povo se havia retirado quando chegamos.

Veja que aqui só há três opções, porque não se permite a ênclise com o particípio.