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África Central: a floresta, a savana e a estepe seca

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A região da África Central é dominada pela imensa bacia do rio Congo (ou Zaire). Ao norte, estendem-se florestas cortadas pelos seus afluentes, rios caudalosos e, na maioria das vezes, navegáveis. Boa parte desses cursos d'água nascem longe, nas savanas ao sul, e correm em direção ao norte em diversos vales paralelos. Já na selva, começam a convergir e virar para oeste, até despejarem suas águas no rio principal. Mais para o sul, a savana vai, aos poucos, tornando-se mais árida, transformandose em estepe e, mais à frente, em deserto.

Mapa da África com destaque para África CentralEsses distintos ambientes propõem diferentes desafios a quem quer que se disponha a habitá-los; em virtude disso, modos de vida bastante especializados desenvolveram-se em cada uma dessas regiões. Até o início do primeiro milênio a.C., as regiões de floresta e de savana eram muito esparsamente povoadas por grupos nômades que viviam da caça e da coleta, e por grupos de pescadores que habitavam aldeias sedentárias nas margens dos rios, lagos e estuários. A partir do século X a.C., esses diferentes povos assistiram à chegada de pequenos grupos cujos antepassados haviam começado a se movimentar dois milênios antes, provavelmente a partir de uma zona de transição entre a savana e a floresta, ao sul do rio Benué, na atual República dos Camarões.

Lá, eles já dominavam a agricultura do dendê, do inhame e de outros tubérculos, faziam cerâmicas, navegavam pela costa, pescavam no mar e em rios, e criavam cabras e cachorros, além de coletar extensivamente frutas e castanhas. Não foi um movimento rápido de conquista, nem uma migração populacional avassaladora o que ocorreu por ali; ao contrário, foi uma expansão feita por uma infindável série de pequenos deslocamentos em busca de novas terras para cultivo ou moradia, ou de rios e lagos piscosos ainda pouco explorados. A cada geração, o território ocupado se expandia, em geral não mais do que um dia de marcha, ou cerca de trinta quilômetros.

Esse imenso e lento processo migratório parece ter durado de 3.000 a.C. até o século VI d.C. e chegou a abranger, aproximadamente, um terço de todo o território do continente. O fato de os antepassados longínquos desses migrantes falarem o mesmo idioma (ou um conjunto de idiomas muito semelhantes) faz das línguas de boa parte da África Central, Oriental e Austral elementos de uma mesma grande família, conhecida como bantu (palavra que designa "gente" ou "povo" em boa parte delas). A diferenciação linguística acompanhou as principais direções da expansão migratória: assim, existe um grupo de línguas denominado de bantu ocidental (faladas pelos grupos que atravessaram a floresta e chegaram às savanas da África Central) e outro grupo chamado de bantu oriental (cujos idiomas são falados pelos grupos que contornaram a floresta e se estabeleceram nos grandes lagos, nas savanas orientais ou na costa do Oceano Índico).

É importante fazer algumas ressalvas: dizer que o nível de semelhança entre as línguas bantu é alto não significa dizer que elas sejam, sempre, mutuamente inteligíveis. Dentro do bantu ocidental, por exemplo, as diferenças entre as línguas podem ser comparadas às diferenças existentes entre as línguas neolatinas (português, espanhol, francês, italiano, romeno, etc.). Se um falante de português pode, com algum esforço, entender um de espanhol, já terá uma dificuldade bem maior para entender um de romeno ou de francês. Da mesma forma, povos falantes de línguas da mesma família raramente têm o mesmo modo de vida, nem compartilham necessariamente as mesmas crenças, cosmologias e valores. É preciso insistir, portanto, que "bantu" não pode ser usado para se referir a um povo ou a uma tradição cultural. A origem desse tipo de simplificação está nas noções europeias do século XIX acerca da realidade africana que discutimos na unidade passada.

A chegada dos grupos falantes de idiomas da família bantu também não representou a extinção das populações que os precederam. O mais provável é que os diferentes modos de vida se complementassem. Entretanto, as pequenas vilas tornavam-se o centro das trocas entre as várias populações, e o idioma dos bantófonos ganhou proeminência, embora incorporando, provavelmente, aspectos dos idiomas locais. Na maioria dos casos, os diversos grupos devem ter se misturado, ao longo de vários séculos, através de casamentos ou incorporações simbólicas a grupos de parentesco, embora haja casos em que uma persistente separação é vigente até hoje, com regras rígidas governando os contatos entre diferentes populações.

Fonte: História da África. Curso de Formação para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileiras (CEAO/UFBA).