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Para Gostar de Ler Volume 10: (A aranha)

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[Orígenes Lessa]

Narrado em primeira pessoa, a história começa com um diálogo entre Enéias e o narrador (não nominalizado). Enéias oferece matéria para um conto e diz Dá um conto estupendo, visto que aconteceu... É só florear um pouco. Mas o narrador não aceita, não mostra interesse pelo assunto. No momento da despedida surge um terceiro que ouve de Eneías a proposta que fizera.

Mais uma vez, o narrador, já demonstrando impaciência, tem que ouvir tudo de novo: Não havia remédio. Tinha que ouvir, mais uma vez o assunto. Enéias começa a contar o caso, agora para os dois: - Pois olhe. Foi com o Melo. Quem contou foi ele. Perceba que há uma discussão de caráter metaliterário.

O que vai ficando evidente é que a literatura parte da realidade, recriando-a: Esse é o maior interesse do fato. Coisa vivida. Batatal. Sem literatura. É só utilizar o material, e acrescentar uns floreios, para encher, ou para dar mais efeito. Sobre o melo, Enéias diz que é um violonista famoso. Um artista.

O narrador se despede, pedindo desculpe por não poder ficar para ouvir a história: ... eu vou indo. Tenho encontro marcado. Fica a história para outra ocasião. Não leve a mal. Todavia, o elevador sobe e desce várias vezes, e o empolgado Enéias vai avançando na história de Melo e da aranha; ao mesmo tempo vai tecendo comentários sobre o que poderia ser colocado no conto, caso alguém topasse escrevê-lo.

Melo sempre gostava de bater um violão, diz Enéias, desde modinhas até os clássicos Chopin, Beethoven. Uma noite, ao tocar uma toada melancólica, viu a poucos passos, enorme, cabeluda, uma aranha caranguejeira. A reação é de medo. Parou de tocar e pensou em matar.

Mas a aranha desapareceu, com uma rapidez incrível, fugiu, penetrando numa flincha da parede. Apesar da insistência, Melo não consegue matar o insetozinho; volta para a rede e pôs-se a tocar outra vez a mesma toada triste. A caranguejeira reaparece. Melo para de tocar para dar um golpe, mas antes disso, ela novamente entra no buraco.

Ele fica intrigado e percebe que a aranha está sendo atraída pelo som do violão. Então passa o caso adiante. Isso faz sucesso. Muita gente começa a querer ver a tal aranha, fã de O luar do sertão e de outras modinhas.

Melo, que vivia sozinho, agora tem a companhia, estranha companhia da aranha. As pessoas começam a se afastar, já não há mais curiosidade: após dois ou três meses daquela comunhão - o caso não despertava interesse, os amigos já haviam desertado. Pensa em ter que voltar para São Paulo, mas fica preocupado em deixar para trás a caranguejeira. Certa noite, apareceu um camarada de fora, que não sabia da história.

Hospedado ali com Melo, os dois conversam longamente, inesperada palestra de cidades naqueles fundos do sertão. Depois de tantas, Melo começa a tocar, distraído. Não se lembra de avisar o amigo. Quando a aranha apareceu, o amigo toma um susto, e, num salto violento, sem perceber o grito desesperado com que o procurava deter o hospedeiro, caiu sobre a aranha, esmagando-a.

A reação de Melo é um grito de dor e uma angústia mortal nos olhos. Isso acontece justamente quando ele tocava a Gavota de Tárrega, música preferida da coitadinha. Finalmente, o narrador consegue pegar o elevador: - Desce! Desci.

Orígenes Lessa(1903-1986)
Nasceu em Lençóis Paulista (SP) Ingressou no jornalismo em 1929, ano em que publicou o seu primeiro livro, O escritor proibido (contos) Em 1932 começou a trabalhar como redator publicitário, sem contudo abandonar a literatura. Autor traduzido para várias línguas, deixou trabalhos adaptados para o cinema e a televisão.

Elaboração: Equipe Aprovação Vest